Depois de um longo período de retração econômica iniciada em 2014, a economia começa a dar sinais de melhora a partir do primeiro trimestre de 2016. A tabela abaixo mostra as variações, com relação ao mesmo trimestre do ano anterior, de alguns indicadores econômicos como o PIB, Cheques sem fundo (Serasa), Índice de Confiança do Consumidor (Fecomércio) e taxa de desemprego na RMSP (SEADE).
Após cair -5,7 no quarto
trimestre de 2015 a velocidade da queda do PIB começa a desacelerar até que o
sinal se torna ligeiramente positivo no primeiro trimestre de 2017. Os cheques
sem fundo – indicador de inadimplência do consumidor - atingem seu auge no quarto trimestre de 2015 e
a partir dai desacelera, passando a cair no primeiro trimestre de 2017. A taxa
de desemprego também chega ao máximo no quarto trimestre de 2015, caindo desde
então até tornar-se negativa, no início de 2018. Como consequência, o ICC, que
é uma medida subjetiva da crise, inverte de tendência a partir do 3T de 2015,
passando a aumentar desde então, ainda que de forma um tanto errática, com
algumas idas e vindas.
Ainda que ténue, o quadro geral mostra
uma melhora dos indicadores econômicos em 2017 e 2018. Isto nos ajuda a
entender em parte a queda de roubos e homicídios na maioria dos estados em
2018.
Esta melhora no cenário
econômico, como sempre insistimos, afeta os indicadores criminais: na retração,
a média de roubos sobe e as ocorrências de tráfico caem; na expansão ocorre o
movimento inverso.
Numa base ampliada com 89
trimestres – do terceiro trimestre de 1996 ao terceiro trimestre de 2018,
compilamos os indicadores criminais de Estados que publicam longas séries
históricas de crimes, como SP, RJ, MG e RS. Durante este período tivemos,
segundo a classificação da FGV, 24 trimestres de retração e 65 trimestres de
expansão da economia.
A tabela abaixo traz as taxas
médias de crimes selecionados, comparando os períodos de expansão e retração.
Os homicídios em São Paulo caíram em média -0.7% nos trimestres de crise da
economia e -5,9% nos trimestres de melhoria. Como esperado, a apreensão de
armas – que mede o número de armas em circulação - segue o mesmo padrão: aumenta durante a crise
e cai no período de prosperidade. A crise aumenta os roubos e torna as pessoas mais
inseguras, estimulando a circulação de armas. Os roubos em SP crescem 2,4% na
expansão e 10,6% na recessão. No RS as médias passam de 3,6% para 13,3% e em
Minas Gerais passam de 1,3% para 10,5% quando a situação da economia piora.
No RJ, no período selecionado,
não observamos a mesma tendência: os roubos de veículos parecem diminuir na
crise e os roubos ficam no mesmo patamar. O problema é que o RJ passou desde
2014 por um surto de aumento da criminalidade que teve outros elementos indutores,
além da crise econômica. Assim, ele teve aumento dos crimes patrimoniais mesmo
em 2016 e 2017, quando os demais estados já começavam a reduzir o crime. Isto
faz com que a associação entre ciclo econômico e criminalidade fique confundida
no RJ, dependendo do período que se analise.
Finalmente, como qualquer outra
commodity, a procura por drogas aumenta quando os consumidores tem mais
dinheiro (11,1%) e cai quando a economia entra em crise (6,2%), corroborando,
como sugerimos antes, que apreensão de drogas é um indicador que reflete a
quantidade de drogas em circulação, mais do que atividade policial.
Relações bivariadas podem ser
enganosas e todos os indicadores escolhidos refletem em seus diversos aspectos a
dimensão “recessão econômica”, sendo mais ou menos colineares. Quando inserimos
todos simultaneamente num modelo de regressão, verificamos que alguns são
melhores preditores dos roubos do que outros, especialmente a variação na taxa
de desemprego. Não é o caso de discutir neste espaço detalhes do modelo, que
pode ser avaliado pela sua capacidade de predição, testada no gráfico abaixo.
Na linha verde abaixo vemos a
variação dos roubos em São Paulo, e na linha azul vemos a predição no modelo,
com base nas nossas variáveis econômicas. A linha azul, portanto, prediz como
evoluiriam os roubos em SP se soubéssemos apenas como foi a evolução dos
indicadores econômicos, sem mais nenhuma outra informação. As linhas verticais delimitam os períodos de
retração e expansão, classificados pela FGV, com ênfase nas crises de 2009 e
2014.
Como é possível visualizar, o
modelo se ajusta bem à realidade na maior parte do período: ele prediz com razoável
precisão o aumento dos roubos nas recessões de 2003 e 2009. Prevê também a
tendência de crescimento dos roubos depois de 2011, mas erra um pouco na
previsão do auge da crise, que posterga para 2015, quando na verdade o pico
ocorreu antes. Finalmente, prevê novamente bem a queda dos roubos depois que a
economia começa a melhorar em 2016.
Os criminosos são um dos
primeiros grupos a perceber a chegada e o término dos ciclos econômicos.
Passamos por dois anos de lenta recuperação da economia e isso redundou em consequências
positivas para a segurança. Como sempre fazemos questão de ressaltar, economia
não é destino. Mas o desempenho dos indicadores de segurança nos próximos meses
terá que ser visto, como sempre, à luz do quadro mais amplo dos ciclos da
economia. Se o governo federal conseguir destravar a economia, dará sua grande
contribuição para a segurança pública do país. Por um lado, diminui o estímulo
ao crime e por outro aumenta a arrecadação dos Estados, que redundam em
investimentos na segurança. E fará um grande favor ao país se não estragar
tudo, flexibilizando o Estatuto do Desarmamento.
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