A última pesquisa CNI Ibope
divulgada em setembro mostra que segurança pública é a política nacional que
recebe a maior aprovação da população. Apesar da queda na aprovação em todas as
áreas entre abril e setembro, segurança é a única política que continua com
patamar de aprovação superior a 50%.
Ela está acima da aprovação média
(39,6%) e acima da aprovação do presidente (44%). São cerca de 11 ou 12 pontos
percentuais acima da média, como pode ser visto na última linha da tabela.
Avaliação
do governo
|
01/09/2019
|
01/06/2019
|
01/04/2019
|
01/09/2018
|
segurança
|
51,0
|
54,0
|
57,0
|
11,0
|
inflação
|
42,0
|
45,0
|
47,0
|
11,0
|
pobreza
|
38,0
|
43,0
|
46,0
|
12,0
|
impostos
|
32,0
|
33,0
|
35,0
|
6,0
|
meio
ambiente
|
40,0
|
46,0
|
48,0
|
15,0
|
saúde
|
38,0
|
40,0
|
42,0
|
10,0
|
educação
|
44,0
|
42,0
|
51,0
|
12,0
|
presidente
|
44,0
|
46,0
|
51,0
|
6,0
|
juros
|
31,0
|
32,0
|
33,0
|
8,0
|
desemprego
|
36,0
|
41,0
|
45,0
|
9,0
|
média
|
39,6
|
42,2
|
45,5
|
10,0
|
variação
|
-6,2
|
-7,3
|
355,0
|
-13,0
|
dif
média
|
11,4
|
11,8
|
11,5
|
1,0
|
Fonte: CNI-Ibope
Desagregando os dados de
setembro, vemos que a aprovação da política de segurança é maior entre os
homens (59%), jovens de 16 a 24 anos (56%), moradores do Norte e Centro-Oeste
(64%), com renda mensal de mais de 5 salários mínimos (61%) e moradores das pequenas
cidades do interior (54%).
A novidade deste patamar de
aprovação da política de segurança fica mais clara quando analisamos a série
histórica mais longa. Quase sempre, a política de segurança recebeu uma
porcentagem de aprovação abaixo da média geral, sendo umas das mais mal
avaliadas.
Em termos absolutos, a aprovação
da segurança passa de 41% em 2008 para 11% em setembro de 2018. Tanto a aprovação do presidente quanto das
diversas políticas caem fortemente durante o período, de modo que a queda na
performance do(s) governo(s) é generalizada.
Todavia, do ponto de vista
relativo, a avaliação da segurança começa a se alterar timidamente a partir de
2013 e em 2018 os desvios em relação à média tornam-se positivos pela primeira
vez (de 1% a 3% acima da média).
Em 2018 tem início o processo de
queda de diversos crimes, em todo o país, como tratamos em outro artigo e o
governo Temer anuncia medidas importantes para a área como a criação do
Ministério da Segurança Pública e o Plano Nacional de Segurança Pública, a
cargo de um ministro do ramo, Raul Jungmann, o que é raro nesta área. Mas como
ilustra nitidamente o gráfico, o salto ocorre em 2019, com a eleição de
Bolsonaro e a indicação do juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça.
Observe-se, como é comum no
início de novos governos, que a aprovação sobe de modo generalizado e não se
restringe ao tema da segurança. Regra geral, a aprovação da segurança reflete a avaliação média do governo e a do presidente. Note no gráfico como as variações na avaliação da segurança acompanham as demais tendências. As melhoras no ano de 2016, pós-impeachment, ilustram bem o fenômeno, quando a segurança basicamente acompanha a melhora nas demais esferas. Mas na segurança acontece algo diferente.
Os índices de aprovação
presidencial já foram superiores a 80% por volta de 2010 e hoje, não obstante o
crescimento recente, estão em 44%. A aprovação média das políticas nacionais
chegou a 56% em 2011 e hoje está em 39,6%. A segurança pública, contudo, nunca
desfrutou de tanta aprovação. O recorde tinha sido 49% em 2011 enquanto agora
superou a marca de 57% em abril.
A linha azul no gráfico traz a
diferença percentual entre a aprovação na segurança e a aprovação média. Vimos
que ela é negativa no início da série, passa gradualmente para positiva em 2018
e dá um salto de 10 pontos em 2019.
Diversas coisas ocorreram aí:
queda da criminalidade desde 2017, acompanhada de aumento da letalidade
policial (em geral apoiada pela população), eleição de governos linha dura nas
esferas federal e estaduais, anúncio do pacote anticrime, transferência de
líderes do crime organizado para prisões federais e outras iniciativas do
Ministério da Justiça como as coletivas para divulgação das quedas nos
indicadores criminais. A ênfase de Bolsonaro no tema segurança pública pode
também ter algum impacto nesta avaliação, embora as pesquisas sugiram que a
população é contra a flexibilização das armas, tema quase exclusivo das
preocupações do presidente nesta área.
Mas a explicação mais plausível é
de que a expressiva melhora se deve basicamente à nomeação de Moro para o
Ministério da Justiça. Vemos um salto de 418% na aprovação da segurança entre a
rodada de setembro de 2018 e a de abril
de 2019, com Moro já no governo, quando a aprovação salta de 11 para 57%. A
nomeação trouxe uma grande expectativa popular de que ele fizesse no MJ o que
fez durante sua trajetória como juiz condutor da Lava Jato.
Esta expectativa ainda se mantém
elevada, como mostra a pesquisa. Mas a aprovação da segurança começa a ser
afetada pela impopularidade crescente do governo, cuja aprovação caiu de 45,5%
para 39,6% entre abril e setembro. De todo modo, Moro empresta ainda sua
credibilidade ao governo e ajuda a jogar a aprovação do governo Bolsonaro para
cima.
Imagem é importante em política,
sabemos disso. Mas há um limite para esta estratégia. A boa reputação tem que
se fazer acompanhar de ações concretas e de políticas de segurança pública
efetivas, - com impactos na criminalidade e na sensação de insegurança. Do
contrário a imagem de Moro e da segurança derreterão, acompanhando a imagem do
governo em geral.