sexta-feira, 27 de setembro de 2019

O “efeito Moro” na aprovação da segurança



A última pesquisa CNI Ibope divulgada em setembro mostra que segurança pública é a política nacional que recebe a maior aprovação da população. Apesar da queda na aprovação em todas as áreas entre abril e setembro, segurança é a única política que continua com patamar de aprovação superior a 50%.

Ela está acima da aprovação média (39,6%) e acima da aprovação do presidente (44%). São cerca de 11 ou 12 pontos percentuais acima da média, como pode ser visto na última linha da tabela.

Avaliação do governo
01/09/2019
01/06/2019
01/04/2019
01/09/2018
segurança
51,0
54,0
57,0
11,0
inflação
42,0
45,0
47,0
11,0
pobreza
38,0
43,0
46,0
12,0
impostos
32,0
33,0
35,0
6,0
meio ambiente
40,0
46,0
48,0
15,0
saúde
38,0
40,0
42,0
10,0
educação
44,0
42,0
51,0
12,0
presidente
44,0
46,0
51,0
6,0
juros
31,0
32,0
33,0
8,0
desemprego
36,0
41,0
45,0
9,0
média
39,6
42,2
45,5
10,0
variação
-6,2
-7,3
355,0
-13,0
dif média
11,4
11,8
11,5
1,0
Fonte: CNI-Ibope

Desagregando os dados de setembro, vemos que a aprovação da política de segurança é maior entre os homens (59%), jovens de 16 a 24 anos (56%), moradores do Norte e Centro-Oeste (64%), com renda mensal de mais de 5 salários mínimos (61%) e moradores das pequenas cidades do interior (54%).

A novidade deste patamar de aprovação da política de segurança fica mais clara quando analisamos a série histórica mais longa. Quase sempre, a política de segurança recebeu uma porcentagem de aprovação abaixo da média geral, sendo umas das mais mal avaliadas.

Em termos absolutos, a aprovação da segurança passa de 41% em 2008 para 11% em setembro de 2018.  Tanto a aprovação do presidente quanto das diversas políticas caem fortemente durante o período, de modo que a queda na performance do(s) governo(s) é generalizada.

Todavia, do ponto de vista relativo, a avaliação da segurança começa a se alterar timidamente a partir de 2013 e em 2018 os desvios em relação à média tornam-se positivos pela primeira vez (de 1% a 3% acima da média).

Em 2018 tem início o processo de queda de diversos crimes, em todo o país, como tratamos em outro artigo e o governo Temer anuncia medidas importantes para a área como a criação do Ministério da Segurança Pública e o Plano Nacional de Segurança Pública, a cargo de um ministro do ramo, Raul Jungmann, o que é raro nesta área. Mas como ilustra nitidamente o gráfico, o salto ocorre em 2019, com a eleição de Bolsonaro e a indicação do juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça.




Observe-se, como é comum no início de novos governos, que a aprovação sobe de modo generalizado e não se restringe ao tema da segurança. Regra geral, a aprovação da segurança reflete a avaliação média do governo e a do presidente. Note no gráfico como as variações na avaliação da segurança acompanham as demais tendências. As melhoras no ano de 2016, pós-impeachment, ilustram bem o fenômeno, quando a segurança basicamente acompanha a melhora nas demais esferas. Mas na segurança acontece algo diferente.

Os índices de aprovação presidencial já foram superiores a 80% por volta de 2010 e hoje, não obstante o crescimento recente, estão em 44%. A aprovação média das políticas nacionais chegou a 56% em 2011 e hoje está em 39,6%. A segurança pública, contudo, nunca desfrutou de tanta aprovação. O recorde tinha sido 49% em 2011 enquanto agora superou a marca de 57% em abril.

A linha azul no gráfico traz a diferença percentual entre a aprovação na segurança e a aprovação média. Vimos que ela é negativa no início da série, passa gradualmente para positiva em 2018 e dá um salto de 10 pontos em 2019.

Diversas coisas ocorreram aí: queda da criminalidade desde 2017, acompanhada de aumento da letalidade policial (em geral apoiada pela população), eleição de governos linha dura nas esferas federal e estaduais, anúncio do pacote anticrime, transferência de líderes do crime organizado para prisões federais e outras iniciativas do Ministério da Justiça como as coletivas para divulgação das quedas nos indicadores criminais. A ênfase de Bolsonaro no tema segurança pública pode também ter algum impacto nesta avaliação, embora as pesquisas sugiram que a população é contra a flexibilização das armas, tema quase exclusivo das preocupações do presidente nesta área.

Mas a explicação mais plausível é de que a expressiva melhora se deve basicamente à nomeação de Moro para o Ministério da Justiça. Vemos um salto de 418% na aprovação da segurança entre a rodada de setembro de 2018  e a de abril de 2019, com Moro já no governo, quando a aprovação salta de 11 para 57%. A nomeação trouxe uma grande expectativa popular de que ele fizesse no MJ o que fez durante sua trajetória como juiz condutor da Lava Jato.

Esta expectativa ainda se mantém elevada, como mostra a pesquisa. Mas a aprovação da segurança começa a ser afetada pela impopularidade crescente do governo, cuja aprovação caiu de 45,5% para 39,6% entre abril e setembro. De todo modo, Moro empresta ainda sua credibilidade ao governo e ajuda a jogar a aprovação do governo Bolsonaro para cima.

Imagem é importante em política, sabemos disso. Mas há um limite para esta estratégia. A boa reputação tem que se fazer acompanhar de ações concretas e de políticas de segurança pública efetivas, - com impactos na criminalidade e na sensação de insegurança. Do contrário a imagem de Moro e da segurança derreterão, acompanhando a imagem do governo em geral.

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