Notícia de hoje destaca que letalidade do coronavirus no
Brasil chegou a 2,3%. Como sempre, é preciso cuidado ao interpretar estes
números. O gráfico abaixo, com efeito, mostra que no dia da primeira morte, 16
de março, a letalidade – percentual de mortos dividido pelo percentual de casos
positivos - estava em torno de 0,42% e que desde então ela estaria subindo
exponencialmente, até alcançar os 2,3% no dia 26 de março. (o gráfico já
projeta o dia seguinte).
Deve-se ter em mente, todavia, que a taxa é calculada tendo
como denominador o número de casos com notificação positiva. No início da
epidemia testava-se quem quisesse, mesmo sem suspeição ou sintomas. Com a
escassez de testes, a política – diferente do que recomenda a OMS - foi modificada, de forma a se testar apenas
os casos sintomáticos, e mesmo assim apenas uma quantidade limitada destes. Há
inúmeros relatos anedóticos de pessoas com os sintomas mas que não conseguiram
fazer o teste. Isto explica em parte a desaceleração das notificações
positivas , como ilustrado no gráfico abaixo:
Assim, provavelmente o que vemos acima é uma desaceleração
de casos notificados, pois a politica de testes tornou-se mais restritiva.
Proporcionalmente, isto faz com que caia o denominador da taxa de letalidade. A letalidade parece estar aumentando
diariamente, mas pode ser um artificio estatístico, produzido pela queda da testagem
e da notificação.
Ninguém sabe ao certo a taxa de letalidade correta do
coronavirus, pois isto depende de inúmeros fatores: subnotificação, clima,
estrutura etária da população, etc. A média mundial – calculada com base nos
casos notificados – é de 3,6%, mas pode ir de 0,2% na Alemanha a 6,6% na
Itália.
Os dados e as políticas no Brasil com relação à testagem em
massa ainda estão se ajustando. Até lá, bom ficar de olho em como as
estatísticas são computadas e o que de fato representam.
Quem tiver interesse pode acessar as simulações do modelo através do link abaixo: