segunda-feira, 18 de abril de 2011

Sobre "rankings" de locais mais violentos

Entre os especialistas em criminalidade sabe-se há muito que construir rankings de lugares ou cidades “mais” ou “menos” violentas é errôneo e pode levar a conclusões equivocadas, com péssimas conseqüências para os locais citados.

Conhecer a cidade onde uma pessoa vive diz pouca coisa sobre seu risco real pois este risco depende muito mais de outros fatores como vizinhança, gênero, idade e estilo de vida. Assim, por exemplo, em todas as cidades os crimes são desproporcionalmente concentrados em algumas vizinhanças de alto risco e diferenças em taxas de criminalidade são muito maiores dentro das cidades do que entre elas. Dentro de uma cidade como São Paulo as taxas de homicídios podem variar entre 3:100 mil em Perdizes a 134:100 mil num bairro periférico como Marsilac. Quem vive ou trabalha em Perdizes corre um risco tão baixo de morrer como nas cidades mais seguras do mundo.

Outros motivos, que nada tem a haver com o risco, fazem as cidades estarem melhor ou pior posicionadas no ranking, como por exemplo os limites entre áreas urbanas e rurais: algumas cidades são geograficamente pequenas e não incluem áreas vizinhas com baixos índices de criminalidade. Se estas áreas e suas populações fossem somadas, os índices criminais da cidade seriam mais baixos.

A proximidade de uma área metropolitana também afeta artificialmente a posição de uma cidade, pois um morador de uma cidade dormitório que trabalhe no município sede e por ventura venha a morrer ali, será contado pela polícia como um homicídio no município sede (o numerador da equação) embora não no denominador (população da cidade).

Alguns municípios, principalmente os turísticos, sofrem com o problema da elevada população flutuante, que faz com que durante certos períodos circulem pelo local uma quantidade de pessoas muito maior do que aquela que reside no local. No momento de calcular a taxa por 100 mil habitantes para estes locais , freqüentemente se esquece que o denominador de base é de fato muito maior, pois deve incluir a população flutuante. Por não atentar para este problema, freqüentemente os municípios do litoral aparecem nos primeiros lugares dos “rankings” de violência, pois suas taxas são artificialmente elevadas.

Alguns fatores que reconhecidamente afetam o volume e o tipo de criminalidade de local para local são: densidade populacional e grau de urbanização; variações na composição demográfica da população; mobilidade populacional; sistema de transporte; condições econômicas, incluindo renda mediana, nível de pobreza e disponibilidade de empregos; fatores culturais e educacionais, recreacionais e características religiosas; estrutura da família; clima; capacidade efetiva das agências de aplicação da lei; polícia e outros componentes do sistema de justiça criminal; atitudes dos cidadãos com relação ao crime; práticas de notificação de crime, etc.
O leitor de jornais que publicam rankings, por conseguinte, deve ser alertado contra comparar dados estatísticos apenas com base na população – e ainda mais contra comparar dados absolutos de crimes. Até que se examine todas as variáveis que afetam o crime num determinado local, o analista não poderá fazer comparações significativas entre eles.

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