terça-feira, 19 de abril de 2011

Você tem medo de que ?

As polícias hoje sabem que tão importante quando reduzir a criminalidade é conseguir fazer com que as pessoas se sintam seguras, pois se o crime esta caindo mas as pessoas se sentem inseguras, estamos diante de um problema de segurança pública.
O ideal não é eliminar cabalmente o medo nas pessoas: mais realista é fazer ao menos com que haja uma congruência entre a criminalidade real e a percepção do fenômeno. Explico melhor. Algum grau de insegurança é saudável, tanto do vista pessoal como coletivo pois se me sinto demasiado seguro diante de uma situação real de risco, deixo de tomar as precauções necessárias – trancar o carro, deixar a luz de casa acesa ao sair, observar o entorno ao fazer saques, etc. Como resultado do excesso de segurança podemos ter um aumento da criminalidade pois boa parte da prevenção ao crime passa pelo comportamento preventivo das potenciais vítimas.
Por outro lado, o excesso de insegurança também é danoso, pois por conta disso empresas deixam de se instalar em certos locais, turistas são afugentados, pessoas deixam de sair à noite para estudar ou se divertir, o valor das casas se deprecia e as cidades se verticalizam, entre outras conseqüências indesejadas, sem falar na perda da qualidade de vida no cotidiano das pessoas. Assim, tanto a ausência quanto a presença exagerada do medo acarretam custos elevados para o indivíduo e para a sociedade.
Pesquisas divulgadas pelo Datafolha e pela Sensus dão conta que 31% dos brasileiros citam a segurança como principal problema nacional e que 90% dos brasileiros avaliam que a violência piorou nos últimos anos no país.
De todo modo, parece que a escalada da sensação de insegurança é generalizada.Uma interpretação possível para o descolamento entre crime e percepções é que, mesmo em queda, o patamar de criminalidade é ainda elevado.
Uma hipótese mais plausível, corroborada por pesquisas, é que a sensação de segurança tem menos relação com a experiência pessoal de vitimização, sendo antes a resultante de como as pessoas se informam sobre a criminalidade, em especial os casos de grande repercussão, como os homicídios na escola em Realengo. Assim, por exemplo, já foi constatado que quanto mais distante o local (no país, no Estado) maior a percepção de que a violência está crescendo, ocorrendo o inverso quando se trata do bairro ou arredores do entrevistado. A violência cresce, mas em algum outro lugar, raramente na redondeza. Além disso, embora os homens e jovens constem nas estatísticas como a maioria das vítimas em quase todos os crimes, são as mulheres e as pessoas idosas que revelam maior temor da criminalidade. A sensação de segurança é portanto afetada não apenas pela experiência pessoal com o crime mas por inúmeras outras variáveis como local de moradia, idade, gênero, exposição e grau de confiança nos meios de comunicação, entre outras.
O papel dos meios de comunicação para reduzir este hiato entre a criminalidade real e a percebida é fundamental – mostrando sim o caso de grande comoção, mas contextualizando-os num cenário mais amplo. Pois para além dos custos apontados, o pior prejuízo do descolamento entre criminalidade e percepção pode ser a adoção de políticas de segurança pública equivocadas e o abandono de outras que estão dando certo mas não são reconhecidas pela sociedade.

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