sexta-feira, 11 de julho de 2014

O Aumento dos roubos em São Paulo


Vem merecendo bastante destaque no noticiário o aumento intenso dos roubos no Estado de São Paulo nos últimos meses. As taxas de crescimento com relação ao ano anterior giram ao redor de 30% no Estado e superam os 42% na Capital.


Antes de tudo, é preciso observar que há uma tendência generalizada de aumento de roubos na maioria dos Estados, desde cerca de março de 2013, tomando a média dos oito estados observados. A tabela abaixo traz as taxas de crescimento dos roubos, com relação ao mesmo período do ano anterior, para oito estados (trabalhamos com médias móveis de 3 períodos, alisando a série para tornar o fenômeno mais visível).
A inversão do ciclo de baixa para o de alta começa em novembro de 2012 no RS, dezembro de 2012 em GO, janeiro de 2013 em Minas, em abril de 2013 no Rio de Janeiro, em maio de 2013 em São Paulo, em julho de 2013 no MS, em setembro de 2103 no MT. Com exceção de Santa Catarina, que deixou de divulgar os dados mais recentes, todos os demais tiveram crescimento acelerado dos roubos. Como discutimos e ilustramos em vários artigos anteriores, em geral os ciclos criminais, especialmente os ligados aos crimes patrimoniais, estão vinculados aos busines cycles e diversos indicadores corroboram a desaceleração da economia nos últimos meses.





Note-se que o pico de crescimento parece ter sido atingido por volta de março ou abril de 2014 e a partir daí começamos a observar ligeiras diminuições no ritmo de crescimento. A exceção parece ter sido São Paulo, que continuou a apresentar taxas crescentes de roubos.
O que explica porque em SP, diferentemente dos demais estados, a tendência de crescimento não apenas não estancou mas, ao contrário, continuou subindo acentuadamente?
O gráfico de controle de qualidade abaixo traz a série histórica mensal de roubos absolutos em São Paulo, desde 2001. Ele mostra tanto a tendência de crescimento, através da linha de tendência, quanto uma clara mudança de patamar a partir de janeiro de 2014. Os aumentos foram superiores a 3 desvios padrões com relação à média, o que dispara um alerta de que algo significativo deve ter acontecido.






Conforme se tem alegado, a melhor candidata para explicar a quebra de nível da série histórica é a hipótese de que mudanças nos sistemas de registros das estatísticas em dezembro tenham aumentado a notificação de crimes, impactando nas estatísticas de roubo.
Como separar o joio do trigo e distinguir o que se deve à tendência histórica de aumento e o que se deve às mudanças no sistema de registro?
Uma maneira de isolar estes impactos é comparar os níveis observados com os níveis esperados, utilizando um modelo ARIMA e a série histórica pré 2014 para projetar qual teria sido a trajetória dos dados, caso nenhuma mudança no sistema de registro tivesse sido efetuada em dezembro de 2013.
Na tabela abaixo vemos os números esperados e observados de roubos no estado, de janeiro a maio de 2014. A última coluna, por sua vez, mostra a diferença percentual entre as duas séries, ao redor de 18%.






Sendo correta a projeção, deveríamos ter observado um aumento de 12% nos roubos do Estado, baseado na tendência histórica anterior. No entanto, observamos um aumento de 32,8%, comparando os cinco primeiros meses de 2014 com o mesmo período de 2013. Como o impacto da mudança no sistema de registro foi de aproximadamente 18%, podemos dizer que a maior parte do aumento observado nos roubos nos últimos 5 meses deveu-se à mudanças de metodologia de coleta, embora haja de fato uma tendência de crescimento dos roubos. O crescimento maior na Capital é natural neste contexto pois a demora do atendimento nas delegacias físicas dos grandes centros urbanos incentiva o uso mais intensivo do registro on-line. De toda forma o governo acerta ao incentivar o aumento da notificação de crimes, facilitando as formas de registro, pois a informação correta é a matéria prima para um bom planejamento policial.
Não se trata de minimizar a tendência de crescimento dos roubos mas apenas de colocá-lo na sua devida dimensão. Qualquer erro de interpretação neste contexto pode levar ao abandono de políticas de segurança que vem sendo tentadas, como o criativo sistema de metas, e a adoção de medidas populistas para lidar com a pretensa explosão da criminalidade.

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