terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Violência nos Eventos Esportivos

O tema da violência nos estádios esportivos sempre foi motivo de preocupação num país onde os campeonatos de futebol são importantes e geram disputas acirradas, envolvendo grandes e fervorosas torcidas, que por vezes extrapolam para fora dos campos suas animosidades.

Com a proximidade da Copa do mundo de 2014 o interesse na questão aumentou: torcedores de outros países querem saber os riscos que correm, organizadores querem garantir a paz nos espetáculos assim como os órgãos públicos envolvidos, todos preocupados com a preservação da ordem pública e a segurança dos eventos de grande porte, que serão mostrados e repercutidos em todo o mundo.

 Um levantamento feito pelo sociólogo Maurício Murad de casos relatados pela imprensa entre 1999 e 2009 contabilizou 42 mortes de torcedores no período, o que, segundo o autor, faria o Brasil liderar o ranking dos países com maior número de mortes de torcedores, superando Itália e Argentina, que figuravam no topo da lista no início do período. E um ponto interessante, diz Murad, é que “grande parte desses torcedores mortos não tinham relação com outros eventos violentos ou torcidas organizadas.”

 Uma análise mais recente, cuja fonte também utilizou artigos de jornal, foi realizada pelo jornal Lance, dedicado a assuntos esportivos. O levantamento contabiliza 155 mortes de torcedores desde 1988 até início de 2012. São Paulo é o recordista com 32 mortes, seguido do Rio de Janeiro com 19.

O levantamento da Lance sugere também que os casos estão aumentando anualmente, embora não se possa dizer se é o fenômeno que cresce ou apenas a cobertura jornalística dos fatos. O levantamento sugere que em apenas 27 casos (17,4%) houve a prisão do autor, impunidade que acaba por estimular outros casos de violência. Cerca de 40% dos casos ocorre fora de dias de jogos, dificultando a prevenção, pois a polícia não está no local. E, tanto nos dias de jogo quanto nos dias sem jogos, a violência ocorre basicamente nas ruas, fora dos estádios.

Do ponto de vista do local dos incidentes, é digno de nota que apenas cinco cidades (São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Fortaleza e Belo Horizonte) concentram mais da metade das mortes (54,8%). Estudo feito pela FGV a respeito do público nos estádios de futebol mostra que, em termos percentuais, o campeonato brasileiro é o que menos atrai torcedores aos estádios.

Obviamente que o preço dos ingressos em relação aos salários afeta esta equação, mas é possível especular que tanto a violência quanto as questões de desordem tenham efeitos independentes neste fenômeno do afastamento do público dos estádios. O primeiro levantamento, realizado por Murad, nos deixa com uma média de 4,2 mortes por ano e o segundo, feito pela Lance, com uma média de 6,4. Do ponto meramente quantitativo o número é inexpressivo num pais onde ocorrem cerca de 36,3 mil homicídios por ano (Mapa da violência 2012, Instituto Sangari).

Mas a questão não é a quantidade e sim o simbolismo: as pessoas vão aos estádios para se divertir e o esporte é uma atividade ligada ao lazer, saúde e ‘a vida, não a morte. O que choca a sociedade é a morte neste contexto e a banalidade da motivação.

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