sábado, 1 de novembro de 2025

O que o “modelo fundamental” diz sobre a eleição presidencial de 2026

 


Em meio a cenários incertos, pesquisas que oscilam e disputas narrativas, há uma ferramenta que tenta prever o resultado das eleições antes mesmo do início da campanha: o modelo fundamental. Diferente das sondagens de intenção de voto, ele não mede preferências momentâneas, mas parte da ideia de que os eleitores julgam o governo sobretudo por fatores estruturais, como o desempenho da economia, a popularidade presidencial e o tempo que um partido já está no poder.

O modelo fundamental, amplamente usado nos Estados Unidos e na Europa, vem sendo adaptado ao Brasil por cientistas políticos que buscam entender como variáveis como aprovação líquida, crescimento do PIB e fadiga partidária influenciam o voto no candidato governista — o chamado incumbente.

A lógica é simples: governos bem avaliados e que entregam crescimento tendem a ser premiados nas urnas; já partidos que permanecem muito tempo no poder enfrentam um “cansaço eleitoral”, perdendo apoio mesmo com a economia estável.

Como funciona o modelo

Na sua forma mais direta, o modelo parte de uma equação que relaciona a votação esperada do governo com esses três fatores: a aprovação líquida (diferença entre aprovação e reprovação), o crescimento do PIB e o número de mandatos consecutivos do partido. Cada um desses elementos tem um peso médio, estimado com base em estudos internacionais e na experiência brasileira.

De acordo com a literatura, um ponto percentual a mais de aprovação líquida costuma render entre 0,6 e 0,8 ponto percentual a mais de votos para o candidato do governo. Já o PIB, quando cresce, também ajuda: cada ponto a mais tende a adicionar algo entre 1 e 1,5 ponto percentual. O efeito da fadiga, por outro lado, é negativo — em média, dois pontos a menos a cada mandato seguido do mesmo partido.

Esses números vêm de décadas de estudos em diversos países, mas o modelo pode ser recalibrado com dados nacionais. Quando se faz isso com as eleições brasileiras de 1989 a 2022, surgem nuances interessantes: a economia, por si só, não explica tanto quanto a percepção política do seu desempenho. Em outras palavras, o que importa não é apenas se o PIB cresce, mas se os eleitores sentem que a vida está melhorando.

O caso brasileiro

Rodando o modelo com dados das nove eleições presidenciais brasileiras, o resultado é coerente com a intuição popular. A aprovação do governo aparece como o principal determinante da votação, enquanto a fadiga partidária pesa muito mais do que em outros países. Cada mandato consecutivo adicional reduz, em média, quase oito pontos percentuais do voto do governo — um efeito poderoso. Já o PIB, embora importante, tem impacto estatisticamente fraco, provavelmente por se confundir com a popularidade do presidente.

O que esperar de 2026

Partindo de um cenário moderado — aprovação líquida de +5 pontos, PIB crescendo 1,8%, e uma fadiga de dois mandatos consecutivos (já que Lula e o PT retornaram ao poder em 2023, depois de quatro governos anteriores entre 2003 e 2016) —, o modelo projeta que o incumbente deve obter cerca de 38% dos votos válidos no primeiro turno de 2026.

Esse número vem da combinação de dois modelos: um teórico, baseado em estudos internacionais, e outro empírico, calculado com os dados históricos do Brasil. O resultado é convergente: ambos indicam uma votação entre 36% e 40% — suficiente para colocar o governo na disputa, mas distante de uma vitória no primeiro turno.

O que isso significa

Em linguagem simples, o modelo diz que o governo chega competitivo, mas sem favoritismo automático. A popularidade moderada e um crescimento econômico modesto ajudam a manter uma base sólida, porém a fadiga política — o “cansaço” com o partido no poder — deve limitar o teto de votos.

Isso não significa que a eleição esteja decidida. O modelo fundamental não capta fatores de campanha, debates, escândalos ou candidaturas alternativas. Ele descreve apenas o terreno estrutural sobre o qual a eleição será disputada. Campanhas excepcionais, crises inesperadas ou alianças políticas podem mudar o quadro.

Um termômetro de contexto, não de resultado

Em resumo, o modelo fundamental não substitui as pesquisas, mas as complementa. Ele não diz quem vai ganhar, e sim qual seria o resultado “esperado” se os eleitores votassem apenas com base no desempenho do governo e no contexto econômico. Em 2026, esse cenário esperado coloca o atual presidente em torno de 38% dos votos — competitivo, mas vulnerável.

Como todo modelo, ele simplifica a realidade, mas oferece uma bússola útil: enquanto a política oscila, a matemática dos fundamentos continua mostrando que a popularidade ainda é a moeda mais valiosa em uma eleição presidencial.


Fontes consultadas:
Lewis-Beck & Stegmaier (2013), Public Choice; Fair (2009), Cowles Foundation; Powell & Whitten (1993), American Journal of Political Science; Nadeau, Lewis-Beck & Bélanger (2017), Comparative Political Studies; Fernandes (2019), Opinião Pública.


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