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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014
Quer saber a tendência de roubo de veículos? Pergunte ao Google !
A análise do chamado “big data” é uma tendência crescente no setor privado. A ideia básica é buscar correlações ocultas entre fenômenos usando bases de dados gigantescas de informações coletadas junto aos consumidores e usuários, complementando-as ou não com informações de outras fontes.
O Big Data não pretende fazer ciência ou discutir causalidade (embora os profissionais se denominem data scientists), pois o mercado não tem tempo nem vocação para isso. Correlação, como sempre se diz, não é causação; significa apenas que dois fenômenos variam juntos no tempo (ou no espaço), mesmo que a ligação entre eles seja espúria. Conhecendo a correlação você pode fazer boas previsões e talvez obter algum insight sobre porque algumas variáveis se comportam de maneira parecida. Neste campo ninguém está muito preocupado em saber porque a previsão funciona: basta que funcione, abordagem aliás compartilhada por muitos epidemiologistas, com sucesso na área da saúde.
Big Data não serve somente pra aumentar as vendas e pode ser usado para outras finalidades mais nobres: um exemplo interessante e bastante citado é o da previsão de epidemia de gripe feita pela Google, com base nas buscas dos usuários usando palavras chave ligadas a sintomas e tratamento da doença. Evidências comparando as previsões do google flu com os dados epidemiológicos oficiais da saúde mostraram que o sistema produz previsões acuradas, mais rápidas e baratas sobre surtos de gripe nos Estados Unidos.
E como anda a discussão sobre big data no campo da segurança pública? Os departamentos de polícia lidam com bases de dados gigantescas com informações sobre eventos criminais, vítimas e suspeitos, veículos e armas, entre outras. Apenas algumas unidades de análise contam com recursos mais sofisticados para ficar buscando correlações estatísticas; na prática, na maioria das unidades o máximo que se faz é usar as informações passadas para mapear hot spots criminais no espaço e no tempo, ou seja, ruas e horários de maior incidência criminal. Fazer perfis de vítimas e autores são outro uso comum mas a cultura do big data é ainda incipiente. Inspirado em Big Data, há um aperfeiçoamento das técnicas para estimar hot spots, que são as análises preditivas, com novos softwares e algoritmos, como o Predpol que, tal como no filme Minority Repport, promete refinar as sugestões de locais e horários para operações policiais. Seu uso vem se disseminando nos departamentos de polícia e é algo para se monitorar de perto.
Há pouco tempo, o Google disponibilizou um recurso chamado google correlate, que, como o nome sugere, permite correlacionar dados inseridos pelo usuários com buscas feitas pelos usuários do google na internet, para um dado período e país. A lógica subjacente é a do big data: buscar correlações elevadas, sem preocupações causais, para prever eventos ou obter insights para melhor compreendê-los.
Como um experimento, inserimos no google correlate a série histórica de roubo de veículos no Estado de São Paulo entre janeiro de 2004 e junho de 2013. Inserida a série, o sistema busca automaticamente as palavras e expressões dos usuários que mais se “parecem” com ela, usando coeficientes de correlação de Pearson. O analista pode também escolher períodos específicos e defasar ou adiantar a série por quantos períodos desejar, uma vez que nem sempre a correlação temporal entre fenômenos é simultânea.
O experimento, apesar das limitações ( por exemplo, temos apenas as buscas para Brasil e não especificamente para São Paulo; o sistema mostra a correlação mas não a quantidade de casos usada para obtê-la, etc) trouxe alguns resultados bastante interessantes: o sistema não tem como saber sobre o que trata a série de dados inserida (no caso, roubo de veículos) mas mesmo assim encontrou correlações com vários fenômenos relacionados a veículos. Além disso, as palavras chave que apareceram estão associadas ao problema do desmanche de veículos, uma das motivações principais para roubo de veículos em São Paulo.
Assim, por exemplo, as variações mensais nos roubos de carros entre 2004 e 2013 coincidem com as consultas dos usuários, no mesmo mês, para as expressões “peça” (R=0,79) e “nacional wolksvagen” (r=0.73). A correlação com a busca “nacional wolksvagen” cresce para 0.78, se defasarmos a série em um mês (t-1), ou seja: o volume de roubo de veículos num determinado mês está associado a buscas no google usando esta expressão, no mês anterior.
Igualmente interessante é que quando defasamos a série para outros períodos encontramos correlações elevadas em t-2 com a expressão “multa Detran” (r-0.76) e em t-3 com a procura no google por “auto som” (r=0.79).
Obviamente que não se pode tirar grandes conclusões desses achados mas não deixa de ser interessante notar que, sem saber do que se tratavam os números, que poderiam ser sobre produção de rosquinhas, o google correlate sugere que a variação mensal do roubo de veículos em São Paulo está altamente correlacionada a buscas de usuários brasileiros usando as palavras chave peças, nacional wolksvagen, multa Detran e auto som no mesmo mês ou nos meses anteriores. Parece sugerir que o roubo de veículo está relacionado a demandas no mercado ilegal de peças e equipamentos automotivos e talvez a fraudes (falsos registros de roubos em veículos com multas elevadas).
Conhecer a causa por traz dos fenômenos é sempre importante. Diz se que no período da Peste Negra na Europa acreditava-se que os ratos transmitissem a doença, quando na verdade era a pulga presente nos ratos. Esta correlação espúria peste-ratos provavelmente causou a morte de milhares de pessoas pois ao eliminar os ratos, as pulgas mais facilmente proliferavam entre os seres humanos...
Os adeptos do big data não lidam com temas tão cruciais quanto a peste negra e seu maior interesse é aumentar as vendas. Não importa se a correlação é espúria ou não mas que a correlação exista e seja forte. Se o seu interesse não é combater o roubo de veículos mas calcular valor de seguro ou estimar riscos e tendências, não é preciso esperar pelas estatísticas oficiais de criminalidade. Vá ao Google Trends munido de algumas palavras chave que se correlacionam ao fenômeno de interesse e terás uma excelente previsão das tendências associadas a ele.
O estudo das causas precisa de técnicas e análises mais sofisticadas e ai não há substituto para o bom e velho método científico mas, como vimos, big data e correlações podem dar boas pistas pra começar!
quinta-feira, 30 de janeiro de 2014
Um retrato dos roubos em SP
Um retrato dos roubos em SP
30 de janeiro de 2014 | 2h 09
Notícia
O Estado de S.Paulo
Levantamento inédito da Coordenadoria de Análise e Planejamento da Secretaria da Segurança Pública, com base nos Boletins de Ocorrência (BOs) registrados entre janeiro de 2001 e julho de 2013, aponta um aumento alarmante dos índices de "reiteração criminal" no Estado de São Paulo. Essa expressão foi usada pelos autores da pesquisa para diferenciá-la do conceito de reincidência criminal, que é aplicado aos crimes transitados em julgado com, no máximo, cinco anos de intervalo.
Divulgada na mesma semana em que a Secretaria da Segurança anunciou que o número de veículos roubados no Estado em dezembro foi o maior dos últimos 12 anos, a pesquisa não abrangeu as Varas de Execução Penal. A análise limitou-se apenas às estatísticas da Secretaria, que só no ano passado registrou uma média mensal de 29.320 BOs de roubos. A média vem aumentando em velocidade preocupante. Entre 2011 e 2013, ela foi de 27.440 BOs desse tipo de delito.
Segundo o levantamento da Secretaria da Segurança Pública, de cada dez acusados de roubo no período analisado, sete voltaram a praticar o mesmo tipo de crime. Os autores do levantamento alegam que, como falta um padrão na redação dos BOs e muitos deles contêm erros de preenchimento, o índice de reiteração pode ser mais alto.
A pesquisa da Secretaria da Segurança Pública também mostra que, dos ladrões que voltaram a delinquir, 41% tinham menos de 18 anos quando roubaram pela primeira vez. Entre os ladrões que reiteraram no mesmo tipo de delito, 98% realizaram pelo menos três outros roubos e os 2% restantes repetiram o crime mais quatro ou cinco vezes. Já o intervalo entre a primeira e a última reiteração é mais bem distribuído. Foi de um ano em 22% dos casos, de dois anos em 29%, de três a quatro anos em 32%, de cinco a sete anos em 15% e de oito anos ou mais em cerca de 2% dos casos.
O levantamento mostra ainda que, quanto maior o número de reiterações desses ladrões, menor é a idade com que cometeram o primeiro ilícito. O estudo identificou criminosos que entraram no mundo do crime aos 12 anos. O secretário Fernando Grella Vieira ficou surpreso com os resultados do estudo. "Sabíamos que tinha reiteração, mas não sabíamos o porcentual. Não é possível que uma pessoa apareça com porcentual tão elevado de reiterações sem resposta efetiva", afirmou. "Os dados parecem confirmar um fato evidenciado na literatura de carreiras criminais: um número pequeno de criminosos 'produtivos' é responsável por uma parcela desproporcional de crimes", afirma o ex-diretor do Departamento Nacional de Segurança Pública e ex-chefe da Coordenadoria de Análise e Planejamento da Secretaria da Segurança, Túlio Kahn.
Os resultados do levantamento mostram a baixa produtividade do sistema estadual de segurança pública. Em matéria de esclarecimento de roubos, por exemplo, o índice não chega a 2% ou 3%, diz Grella Vieira, depois de cobrar maior articulação entre o Executivo, o Ministério Público, a Justiça Criminal e o Congresso, onde tramitam vários projetos de reforma da legislação penal e da legislação processual penal. Como o estudo mostrou que é muito alto o número de ladrões que começam a delinquir aos 16 anos, em vez de aumentar o rigor das punições no Código Penal, a Câmara e o Senado deveriam reformar a Lei de Execuções Penais, revendo o regime de progressão da pena, e o Estatuto da Criança e do Adolescente, ampliando o tempo de internação de infratores que estão chegando à maioridade penal. "É preciso investir em medidas aplicáveis ao adolescente, principalmente quando completa 18 anos. Não resolve o problema pegar um adolescente de 16 anos e jogar na prisão", afirma.
De fato, quanto maior é a impunidade, maiores tendem a ser os índices de reiteração e de reincidência, como aponta a pesquisa, realimentando continuamente um cenário de violência e insegurança, em que as normas legais são ineficazes e sua violação, a regra. Fruto da melhoria da qualidade das estatísticas no setor, o levantamento é fundamental para embasar políticas destinadas a mudar esse cenário.
domingo, 26 de janeiro de 2014
Carreiras criminais Juvenis: fatores de risco e de proteção para a entrada dos jovens no mundo do crime
Os criminólogos se dedicam já há algumas décadas a investigação das trajetórias criminais juvenis, procurando entender em que idade e circunstâncias pessoais e contextuais os jovens enveredam para o mundo do crime, como a frequência e modalidade criminal variam com o tempo, bem como os fatores que fazem com que alguns continuem esta carreira até a idade adulta enquanto outros a abandonem. Alguns autores denominam esta linha de pesquisa como criminologia desenvolvimental ou de curso de vida (DLC, na sigla inglesa), que parte do pressuposto de que as mudanças na atividade criminal conforme a faixa etária ocorrem de um modo relativamente ordenado no tempo.(Piquero, Farrington e Blumstein, 2007).
Entre os principais temas desta linha de pesquisa estão a questão dos delinquentes crônicos, da variação da frequência criminal com o avanço da idade, da especialização ou versatilidade criminal, da influência dos colegas, da duração das carreiras criminais, entre outras. Neste percurso analítico, baseado frequentemente em pesquisas longitudinais, alguns achados parecem consolidados e consistentes e são resumidos abaixo, seguindo o elenco proposto por Piquero, Farrington e Blumstein:
• a cada geração, apenas uma pequena parcela dos jovens envereda pelo crime e esta pequena parcela responde por uma quantidade desproporcional de crimes e sentenças juvenis; os delinquentes crônicos tendem a começar cedo no crime e a ter longas carreiras criminais;
• a idade da entrada na criminalidade ocorre tipicamente entre os 8 e 14 anos de idade e a idade da desistência ocorre entre os 20 e 29 anos.
• a prevalência da delinquência tem seu pico no final da adolescência, entre os 15 e 19 anos;
• uma entrada precoce na delinquência prediz uma carreira criminal de longa duração e o cometimento de relativamente mais crimes;
• existe uma continuidade clara na delinquência e no comportamento anti social desde a infância para a adolescência e o mundo adulto. O comportamento é estável no tempo e pessoas que cometem muitos crimes durante uma fase da vida tem uma grande probabilidade de também cometer muitos atos criminais posteriormente;
• a delinquência é mais versátil do que especializada: delinquentes violentos, particularmente, parecem delinquir frequentemente em outras modalidades de delinquência;
• os tipos de atos definidos como delinquência são elementos de uma ampla síndrome de comportamento anti-social que incluem consumo pesado de bebidas, direção perigosa, sexo promiscuo, entre outros; esta personalidade antissocial surge na infância e persiste até a idade adulta (Farrington, 1996)
• a exposição a amigos delinquentes tipicamente precede o início do próprio comportamento delinquente. Independente da ordem cronológica, o comportamento delinquente de um indivíduo está positivamente relacionado com o comportamento delinquente – real ou percebido – dos amigos (Elliot e Menard, 1996);
• com o avanço da idade, a delinquência grupal muda progressivamente para a individual. Até o final da adolescência o crime tende a ser cometido em grupo mas ao redor dos 20 anos a maioria das ofensas são cometidas individualmente; a co-delinquência parece mais comum em alguns tipos de crimes (arrombamentos, roubos) do que em outros;
• os motivos da delinquência até o final da adolescência são variáveis, incluindo excitação e diversão, tédio e ou razões emocionais e utilitárias. A partir dos 20 anos os motivos utilitários transformam-se progressivamente em motivo predominante;
• diferentes tipos de delinquência tendem a ser iniciadas em diferentes idades. Este tipo de progressão é tal que furtos tendem a ser cometidos antes do que arrombamentos, estes antes dos roubos e assim por diante. Em geral, a diversificação da delinquência cresce até cerca de 20 anos e depois diminui, aumentando a especialização;
• nos criminosos crônicos, o patamar de 4 condenações é um bom previsor de reincidência criminal pois a partir de 4 condenações a taxa de reincidência permanece relativamente estável e elevada. Os delinquentes crônicos diferem dos demais delinquentes em diversas dimensões, incluindo precocidade da atividade criminal e violência;
• a probabilidade de desistência na trajetória criminal diminui em função do aumento no número de sintomas antissociais. Em outras palavras, uma grande variedade de comportamentos desruptivos prediz a persistência do comportamento desviantes (Loeber)
Embora estes achados sejam partilhados de forma comum entre diferentes grupos de criminólogos, pesquisas sugerem que talvez não exista um caminho único para o crime mas caminhos distintos, que explicam, por exemplo, porque alguns jovens enveredam para crimes que envolvem agressão física e social e outros enveredam para o caminho dos crimes patrimoniais. (Loeber)
Além destas características levantadas pela linha de pesquisa de trajetórias criminais, outros estudos criminológicos levantaram inúmeros fatores de risco e proteção para o envolvimento no crime. Os fatores de risco são condições ou variáveis que estão associadas à alta probabilidade de ocorrência de resultados negativos ou indesejáveis ao desenvolvimento humano, sendo que dentre tais fatores encontram-se os comportamentos que podem comprometer a saúde, o bem-estar ou o desempenho social do indivíduo (WEBSTER-STRATTON, 1998). São fatores de ordem pessoal, familiar, escolar, de vizinhança, etc. que estão correlacionados com maior ou menor envolvimento criminal. Estão baseados em teorias que entendem o crime como fruto do reduzido auto-controle, cuidados ineficazes dos pais com as crianças durante o processo de crescimento, diferenças de oportunidades, contextos ecológicos de vizinhança (que implicam em diferenças econômicas, sociais e culturais), influência dos pares, tendências anti-sociais gerais subjacentes e teorias fundadas na adaptação genética e biológica, entre outras. (Hawkins, 1996). Farrington afirma que, tomando estas diferentes teorias, existem literalmente milhares de variáveis que diferenciam significativamente os delinquentes dos não delinquentes e que é difícil diferenciar entre os fatores de risco os que são sintomas e os que são causas.
Entre estes fatores podemos mencionar: nível de inteligência, assiduidade escolar, personalidade e temperamento, impulsividade psicomotora, hiperatividade, irritabilidade, renda familiar, tamanho da família, histórico de emprego familiar, histórico de tratamento psiquiátrico, práticas de supervisão e disciplinamento, separações temporárias ou permanentes dos pais, agressividade na escola, baixa concentração, rendimento escolar, faltas e repetências, idade da mãe no nascimento do primeiro filho, problemas comportamentais dos irmãos, registro criminal dos pais e irmãos, desarmonia familiar, baixa estatura, baixo QI não verbal, baixo peso ao nascer, níveis de testosterona, grau de desonestidade, grau de popularidade, trauma crânio encefálico, nível de renda da vizinhança, uso de substâncias pelo indivíduo, uso de substâncias pela mãe durante a gravidez, reduzidas habilidades sociais, entre dezenas de outros fatores investigados.
Em contrapartida, existem também alguns conhecidos fatores de proteção, tais como a presença do pai biológico na infância, QI elevado, mães atenciosas, o abandono de grupos e amigos delinquentes, a obtenção de um emprego estável, o casamento, mudança de contexto, maturidade etária, etc. – que aumentam a probabilidade de desistência da carreira criminal. São fatores que, mesmo em situações adversas, podem afastar o indivíduo do envolvimento criminal. Com efeito, boa parte dos fatores de risco, com sinal inverso, pode atuar como fatores protetivos.
Levantar as informações e responder a estas questões tem como foco a possibilidade de auxiliar a construir novas estratégias para lidar com a questão. Assim, é também objetivo discutir as possíveis formas de prevenção que podem ser postas em prática no contexto estudado, à luz dos achados levantados nesta pesquisa. Entre os poucos trabalhos sistemáticos já realizados sobre a prevenção criminal voltada a jovens no país Assis e Constantino (2005), em artigo voltado a discutir as conexões entre os principais fatores de risco e as estratégias de prevenção primária, secundária e terciária, apontam algumas iniciativas existentes que têm demonstrado impacto significativo na redução das infrações. Pautando-se tanto em estudos realizados no contexto internacional quanto nacional sobre os projetos preventivos, as autoras encontraram que entre os principais aspectos eficazes nas práticas de prevenção de jovens estão: intervenções na gravidez e infância precoce para famílias em situação de risco, treinamento para pais de jovens e adolescentes envolvidos com o crime, intervenções precoces para jovens infratores, programas realizados em escolas que buscam a prevenção primária dos crimes e da violência e programas realizados em comunidades. No Brasil, entretanto, a maioria dos projetos são recentes, realizados em poucas localidades e pouco avaliados para que se possa dizer com clareza o real impacto de suas medidas.
Como sempre na criminologia, o objetivo é não apenas conhecer o fenômeno mas também propor políticas públicas eficientes para atenuá-lo. Os estudos das trajetórias criminais podem ter impacto direto não apenas para a tomada de decisão do sistema de justiça criminal, mas também de diversos outros setores de políticas públicas (de saúde, urbanísticas, de assistência social, de educação) que lidam com a evolução de aspectos cruciais da vida que estão também relacionados a possível deflagração de ocorrências criminais.
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
No Maranhão não tem disso, não (artigo de Roberto Macedo no Estadão)
Roberto Macedo* - O Estado de S.Paulo
O Maranhão destacou-se no noticiário recente quando veio à tona a chocante situação do presídio de Pedrinhas, na capital. Essa prisão é recordista nacional de presos assassinados por outros detentos, no que houve até torturas e decapitações enaltecidas por seus autores. Não se pode dizer que houve uma crise. Ela estava lá e apenas aflorou dramaticamente ao evidenciar a situação calamitosa do sistema penitenciário do Estado e a responsabilidade do seu governo pelo que ali se passa.
Superlotação, desconforto, más condições sanitárias, domínio de detentos por facções criminosas e outros problemas também atingem presídios em outros Estados. No Maranhão, contudo, um dos mais pobres do País, governado há tempos por uma oligarquia familiar desatenta a questões como essa, o presídio de Pedrinhas acabou tendo projeção nacional como símbolo do desleixo governamental.
A governadora Roseana Sarney, com um semblante que não escondia a situação constrangedora a que foi levada, veio com explicações para os acontecimentos, ainda que sem se deter na própria falta de ações que, se tomadas corretiva e preventivamente no passado, poderiam ter impedido a eclosão do que de nefasto ocorreu em Pedrinhas.
Nesse escapismo, uma das razões que apontou para o aumento da criminalidade foi que o Maranhão se vem tornando "mais rico". Essa afirmação soou estranha para muitos e recebeu várias críticas. Entre elas, a do jornalista Alberto Dines. Primeiro, ele criticou José Sarney, pai da governadora, por ter afirmado que a violência nas prisões do Estado estava contida pela filha. Mas, logo depois, "(...) a violência ganhou as ruas de São Luís, num claro desafio ao imortal ficcionista (...)", referindo-se ao incêndio de um ônibus que levou à morte de uma criança por queimaduras, as quais alcançaram também familiares que a acompanhavam. Em seguida, Dines disse que Roseana, no dia 9, "(...) ao lado de um ministro da Justiça envergonhado com aquela despudorada exibição de cinismo, teve o desplante (...)" de fazer a referida afirmação.
Sem me ater primeiramente à apontada relação entre o Estado estar "mais rico" e o aumento da violência local, logo estranhei a referência à maior riqueza maranhense. O que ela poderia ter dito é que o Maranhão está ficando menos pobre, o que é outra coisa. De fato, o PIB estadual vem crescendo mais do que a média nacional. Segundo levantamentos do IBGE, o PIB do Maranhão aumentou sua participação no do País, de 0,9% em 1995 para 1,3% em 2011.
Uma das razões é o florescimento do agronegócio no sul do Estado, o mesmo ocorrendo com a mesma região de seu vizinho, também muito pobre, o Piauí. Em ambos o sul apresenta condições similares às que em Mato Grosso permitiram o forte aumento da produção de grãos. Aliás, hoje já se fala da região denominada Mapitoba, que reúne essa área daqueles dois Estados, juntamente com o norte de Tocantins e o oeste da Bahia.
Passando à relação entre menor pobreza e aumento da criminalidade, esta também soa estranha, mas pode ocorrer. Fui despertado para essa possibilidade por mensagem de Tulio Kahn, um sociólogo que se vem destacando por seus estudos sobre segurança pública. O texto da mensagem tratava, entre outros aspectos, de dados que indicam um aumento da criminalidade patrimonial em 12 países da América Latina entre 2003 e 2011, período em que aumentaram as taxas de crescimento do PIB e da renda na região, paralelamente à melhoria de vários de seus indicadores sociais. Segundo Kahn, o crescimento da economia amplia o volume de bens em circulação e isso abre espaço para crimes estimulados pelas maiores oportunidades de cometê-los. Em outras palavras, quem passa a ter mais renda e bens disponíveis se torna alvo de maior interesse de ladrões.
Estendendo a conversa, Kahn trouxe-me à lembrança um economista que estudou aspectos econômicos da criminalidade, o americano Gary Becker, Nobel da área em 1992. Este argumentou que os seres humanos são racionais e movidos por interesses econômicos. Assim, ladrões também agem desse modo por entenderem que como resultado sua condição econômica será melhor ou não tão ruim. Mas, ainda que sem fazer cálculos precisos, eles também ponderam os benefícios do crime relativamente a seus custos, como o risco envolvido na própria ação ou a punição depois dela. E a avaliação se dá com relação a alternativas de melhorar sua condição econômica, se existirem.
Nesse contexto, na formulação de políticas públicas para combater a criminalidade pondera-se que esta nunca poderá ser reduzida a zero, dados os imensos custos que isso envolveria. Mas pode-se fazer muito em contrário, aumentando os custos percebidos pelos criminosos, como os envolvidos na captura e punição.
Voltando ao Maranhão, quanto aos custos seria abjeto acenar com a perspectiva de cadeias como a de Pedrinhas. E li que no Estado há mais criminosos foragidos que detidos, revelando que mesmo se ela e outras aprimorarem suas condições, e mais forem criadas, o desestímulo da perspectiva prisional não funcionará se muitos mais criminosos não forem capturados. Ou seja, não há como a governadora, ou quem lhe suceder, retirar o problema de seu colo.
Outra saída importante, também de agenda governamental e nada sólida no Maranhão, é oferecer alternativas à criminalidade, em particular na forma de uma educação efetivamente adequada, inclusive profissionalizante, e mais oportunidades no mercado de trabalho.
Mas, parodiando canção gravada em 1950 por Luiz Gonzaga e voltada para o Ceará, o que se pode dizer repetidamente, mais do que sobre muitos outros Estados, é que no Maranhão não tem disso, não. E de novo recorrendo a Gonzagão: quem não gostar que me "adesculpe", porque essa é a minha percepção.
*Roberto Macedo é economista (UFMG, USP E HARVARD) e consultor econômico e de ensino superior.
terça-feira, 14 de janeiro de 2014
Segurança Pública: questão continental
O aumento da preocupação com a delinquência e a segurança pública é um fenômeno não apenas brasileiro, mas latino americano. Há uma década a pesquisa Latinobarômetro pergunta aos habitantes do continente quais são suas maiores preocupações: a porcentagem de preocupados com a delinquência e a segurança pública cresceu nada menos do que 239% na média da região entre 2004 e 2011. Em 2004, apenas 8% dos entrevistados citavam o problema criminal entre as maiores preocupações, porcentagem que se elevou a 27% em 2011.
Como sempre, as medias escondem grandes diferenças individuais, tanto em termos de magnitude quanto de variação. A crescente preocupação com a violência parece refletir antes as mudanças relativas e recentes, ao invés dos níveis absolutos de criminalidade em cada país. Isto explica, por exemplo, porque no Uruguai, Chile e Argentina, onde as taxas de criminalidade são relativamente baixas, existe maior preocupação com a delinquência do que no Brasil ou Colômbia, onde a criminalidade elevada é já antiga conhecida e dessensibiliza os sentidos.
Analisando longitudinalmente, o Brasil, entre os países pesquisados, é o único país onde a preocupação com a criminalidade parece ter regredido (embora na média a preocupação com segurança pública tenha se mantido relativamente estável ao redor de 10% das menções e a aparente queda possa dever-se antes a uma flutuação artificial, em função dos períodos selecionados).
Esta mudança ao nível das percepções tem fundamento no aumento da criminalidade “real, medida pelas estatísticas oficiais”? Difícil responder pois faltam nos séries históricas de dados criminais comparativos para fazer a correlação com os indicadores subjetivos. Os poucos indicadores existentes, contudo, parecem corroborar um aumento generalizado da criminalidade patrimonial na A.L. na última década – com exceção da pequena Guiana Francesa.
Entre 2003 e 2011 observamos crescimento dos roubos na Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Perú, Suriname e Uruguai, com variações entre 17,5% (Chile) a 157% (Suriname). É interessante notar que a variação na preocupação com a segurança pública cresce a taxas muito mais elevadas do que a dos roubos.
O aumento da insegurança e de alguns indicadores ocorre simultaneamente ao período de crescimento econômico e melhora de indicadores sociais na região, que impacta nos crimes “opportunity driven”, como roubos e furtos. Fenômeno semelhante observamos na região Nordeste brasileira na última década, que convive simultaneamente com aceleradas taxas de crescimento econômico e criminal. Em suma, crescimento econômico acelerado, num contexto de desorganização social e institucional, tem efeitos criminógenos conhecidos.
Desacelerar o passo do crescimento econômico não é obviamente uma alternativa para o problema criminal latino americano e brasileiro, de modo que só é possível amenizar o problema criando políticas públicas que alterem as outras variáveis: aperfeiçoamento do sistema de justiça criminal e transformação da riqueza em investimentos sociais.
terça-feira, 10 de dezembro de 2013
Violência nos Eventos Esportivos
O tema da violência nos estádios esportivos sempre foi motivo de preocupação num país onde os campeonatos de futebol são importantes e geram disputas acirradas, envolvendo grandes e fervorosas torcidas, que por vezes extrapolam para fora dos campos suas animosidades.
Com a proximidade da Copa do mundo de 2014 o interesse na questão aumentou: torcedores de outros países querem saber os riscos que correm, organizadores querem garantir a paz nos espetáculos assim como os órgãos públicos envolvidos, todos preocupados com a preservação da ordem pública e a segurança dos eventos de grande porte, que serão mostrados e repercutidos em todo o mundo.
Um levantamento feito pelo sociólogo Maurício Murad de casos relatados pela imprensa entre 1999 e 2009 contabilizou 42 mortes de torcedores no período, o que, segundo o autor, faria o Brasil liderar o ranking dos países com maior número de mortes de torcedores, superando Itália e Argentina, que figuravam no topo da lista no início do período. E um ponto interessante, diz Murad, é que “grande parte desses torcedores mortos não tinham relação com outros eventos violentos ou torcidas organizadas.”
Uma análise mais recente, cuja fonte também utilizou artigos de jornal, foi realizada pelo jornal Lance, dedicado a assuntos esportivos. O levantamento contabiliza 155 mortes de torcedores desde 1988 até início de 2012. São Paulo é o recordista com 32 mortes, seguido do Rio de Janeiro com 19.
O levantamento da Lance sugere também que os casos estão aumentando anualmente, embora não se possa dizer se é o fenômeno que cresce ou apenas a cobertura jornalística dos fatos. O levantamento sugere que em apenas 27 casos (17,4%) houve a prisão do autor, impunidade que acaba por estimular outros casos de violência. Cerca de 40% dos casos ocorre fora de dias de jogos, dificultando a prevenção, pois a polícia não está no local. E, tanto nos dias de jogo quanto nos dias sem jogos, a violência ocorre basicamente nas ruas, fora dos estádios.
Do ponto de vista do local dos incidentes, é digno de nota que apenas cinco cidades (São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Fortaleza e Belo Horizonte) concentram mais da metade das mortes (54,8%). Estudo feito pela FGV a respeito do público nos estádios de futebol mostra que, em termos percentuais, o campeonato brasileiro é o que menos atrai torcedores aos estádios.
Obviamente que o preço dos ingressos em relação aos salários afeta esta equação, mas é possível especular que tanto a violência quanto as questões de desordem tenham efeitos independentes neste fenômeno do afastamento do público dos estádios. O primeiro levantamento, realizado por Murad, nos deixa com uma média de 4,2 mortes por ano e o segundo, feito pela Lance, com uma média de 6,4. Do ponto meramente quantitativo o número é inexpressivo num pais onde ocorrem cerca de 36,3 mil homicídios por ano (Mapa da violência 2012, Instituto Sangari).
Mas a questão não é a quantidade e sim o simbolismo: as pessoas vão aos estádios para se divertir e o esporte é uma atividade ligada ao lazer, saúde e ‘a vida, não a morte. O que choca a sociedade é a morte neste contexto e a banalidade da motivação.
Com a proximidade da Copa do mundo de 2014 o interesse na questão aumentou: torcedores de outros países querem saber os riscos que correm, organizadores querem garantir a paz nos espetáculos assim como os órgãos públicos envolvidos, todos preocupados com a preservação da ordem pública e a segurança dos eventos de grande porte, que serão mostrados e repercutidos em todo o mundo.
Um levantamento feito pelo sociólogo Maurício Murad de casos relatados pela imprensa entre 1999 e 2009 contabilizou 42 mortes de torcedores no período, o que, segundo o autor, faria o Brasil liderar o ranking dos países com maior número de mortes de torcedores, superando Itália e Argentina, que figuravam no topo da lista no início do período. E um ponto interessante, diz Murad, é que “grande parte desses torcedores mortos não tinham relação com outros eventos violentos ou torcidas organizadas.”
Uma análise mais recente, cuja fonte também utilizou artigos de jornal, foi realizada pelo jornal Lance, dedicado a assuntos esportivos. O levantamento contabiliza 155 mortes de torcedores desde 1988 até início de 2012. São Paulo é o recordista com 32 mortes, seguido do Rio de Janeiro com 19.
O levantamento da Lance sugere também que os casos estão aumentando anualmente, embora não se possa dizer se é o fenômeno que cresce ou apenas a cobertura jornalística dos fatos. O levantamento sugere que em apenas 27 casos (17,4%) houve a prisão do autor, impunidade que acaba por estimular outros casos de violência. Cerca de 40% dos casos ocorre fora de dias de jogos, dificultando a prevenção, pois a polícia não está no local. E, tanto nos dias de jogo quanto nos dias sem jogos, a violência ocorre basicamente nas ruas, fora dos estádios.
Do ponto de vista do local dos incidentes, é digno de nota que apenas cinco cidades (São Paulo, Rio de Janeiro, Goiânia, Fortaleza e Belo Horizonte) concentram mais da metade das mortes (54,8%). Estudo feito pela FGV a respeito do público nos estádios de futebol mostra que, em termos percentuais, o campeonato brasileiro é o que menos atrai torcedores aos estádios.
Obviamente que o preço dos ingressos em relação aos salários afeta esta equação, mas é possível especular que tanto a violência quanto as questões de desordem tenham efeitos independentes neste fenômeno do afastamento do público dos estádios. O primeiro levantamento, realizado por Murad, nos deixa com uma média de 4,2 mortes por ano e o segundo, feito pela Lance, com uma média de 6,4. Do ponto meramente quantitativo o número é inexpressivo num pais onde ocorrem cerca de 36,3 mil homicídios por ano (Mapa da violência 2012, Instituto Sangari).
Mas a questão não é a quantidade e sim o simbolismo: as pessoas vão aos estádios para se divertir e o esporte é uma atividade ligada ao lazer, saúde e ‘a vida, não a morte. O que choca a sociedade é a morte neste contexto e a banalidade da motivação.
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
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