terça-feira, 21 de outubro de 2025

O jogo eleitoral de 2026: como a teoria dos jogos ajuda a entender por que Ratinho Jr. pode ser o principal rival de Lula


Introdução

Com as eleições presidenciais de 2026 no horizonte, cresce o interesse em compreender quais candidatos têm maiores chances de chegar competitivos ao segundo turno. Pesquisas de intenção de voto e indicadores de popularidade oferecem pistas, mas nem sempre captam o elemento mais decisivo de uma eleição: a coordenação estratégica dos eleitores.

Em disputas polarizadas, os eleitores não escolhem apenas com base em preferências pessoais; eles também consideram quem tem chances reais de vencer. Essa interação — em que cada voto depende das expectativas sobre o comportamento dos demais — pode ser formalizada como um jogo de coordenação, no qual a viabilidade eleitoral torna-se um fator tão importante quanto o carisma ou as propostas de um candidato.

Para estudar esse fenômeno, aplicamos um modelo baseado na Teoria dos Jogos, o chamado Equilíbrio de Resposta Quantal (QRE), calibrado com dados empíricos das eleições de 2018 e 2024. O objetivo é prever a distribuição de apoio entre os principais candidatos de 2026, levando em conta não apenas a intenção de voto bruta, mas também a rejeição, o potencial de voto e o comportamento estratégico dos eleitores.

Metodologia: o jogo de coordenação eleitoral

O modelo parte de três variáveis centrais obtidas em pesquisas de opinião:

  1. Potencial de voto (PV) — soma de quem “votaria com certeza” e quem “poderia votar” em determinado candidato;

  2. Rejeição (RJ) — percentual que afirma “não votaria de jeito nenhum”;

  3. Viabilidade percebida (S) — fração estimada de eleitores que, observando as pesquisas, julgam que o candidato tem chances reais de vitória.

Essas variáveis são combinadas na seguinte expressão de utilidade individual:

[
U_i = \alpha \cdot PV_i - \beta \cdot RJ_i + \gamma \cdot S_i
]

onde α, β e γ representam, respectivamente, os pesos do potencial de voto, da rejeição e da percepção de viabilidade.


A partir daí, os eleitores escolhem probabilisticamente entre os candidatos — isto é, quanto maior a utilidade de um nome, maior a probabilidade de ser escolhido, mas nunca de forma determinística. Essa “resposta imperfeita” é controlada por um parâmetro τ, que define o quanto o comportamento coletivo é rígido ou difuso.

O processo é iterado diversas vezes até que o sistema alcance um equilíbrio estável, onde nenhum candidato ganha ou perde apoio sem que o comportamento dos outros também mude. Esse ponto de equilíbrio — o Equilíbrio Quantal (QRE) — reflete a composição final esperada do eleitorado em um ambiente estratégico.

Calibração empírica

O modelo foi calibrado a partir de duas eleições recentes com ampla base de dados:

  • São Paulo (2024), com seis principais candidatos à prefeitura (Real Time Big Data);

  • Brasil (2018), sem Lula, usando pesquisa DataPoder360 e resultados oficiais do TSE.

A calibração ajustou os parâmetros para minimizar o erro médio absoluto (MAE) entre os resultados previstos e os votos reais. O conjunto ótimo encontrado foi:

[
\alpha = 0{,}8,\quad \beta = 0{,}4,\quad \gamma = 0{,}2,\quad \tau = 15
]

Esses valores sugerem que o eleitor médio atribui o dobro de peso ao potencial de voto em relação à rejeição, e reage moderadamente à percepção de viabilidade. O alto valor de τ indica um eleitorado diversificado, com múltiplos polos de preferência, e não um comportamento “tudo ou nada”.

Resultados: o equilíbrio eleitoral de 2026

Aplicando o modelo calibrado às pesquisas mais recentes (setembro–outubro de 2025), os resultados indicam o seguinte equilíbrio entre os sete principais nomes:

Candidato Potencial de Voto Rejeição Participação Estimada (QRE)
Lula (PT) 44% 49% 27,6%
Ratinho Jr. (PSD) 36% 41% 20,2%
Tarcísio de Freitas (Republicanos) 35% 45% 16,3%
Michelle Bolsonaro (PL) 33% 53% 11,0%
Romeu Zema (Novo) 28% 50% 8,9%
Ronaldo Caiado (União) 27% 48% 8,1%
Simone Tebet (MDB) 25% 52% 7,2%

O equilíbrio mostra que Lula ainda lidera, mas com margem reduzida e vulnerabilidade caso a oposição consiga unificar apoios em torno de um nome de centro-direita.

Por que Ratinho Jr. aparece competitivo

O desempenho de Ratinho Jr. no modelo se explica por três fatores combinados:

  1. Baixa rejeição relativa (41%) — em comparação com figuras de maior polarização, como Lula ou Michelle Bolsonaro;

  2. Imagem neutra e pragmática, associada à boa gestão estadual no Paraná;

  3. Capacidade de herdar votos da direita sem afastar eleitores moderados — algo que Tarcísio ou Michelle dificilmente conseguiriam devido à associação direta com o bolsonarismo.

No jogo estratégico, isso significa que Ratinho Jr. é o “ponto focal” da coordenação opositora: ele maximiza a utilidade dos eleitores que desejam uma alternativa ao PT, mas sem risco de radicalização. À medida que a disputa se aproxima e os eleitores percebem sua viabilidade, o modelo prevê uma migração gradual de votos em sua direção, semelhante ao fenômeno observado com Marina Silva em 2010 ou com Bolsonaro em 2018.


Interpretação e implicações

O modelo não prevê resultados definitivos, mas indica direções prováveis de coordenação política. Ele mostra que:

  • A liderança de Lula depende fortemente da fragmentação do campo opositor;

  • Se houver convergência de centro e direita em torno de um único nome, esse candidato se torna competitivo já no primeiro turno;

  • A rejeição é o fator mais limitante para os líderes conhecidos, enquanto o potencial de voto latente beneficia figuras novas ou de perfil técnico.

Ratinho Jr. se encaixa exatamente nessa categoria: conhecido o bastante para ser viável, mas ainda neutro o suficiente para crescer.

Conclusão

O exercício mostra o poder da teoria dos jogos para analisar eleições em cenários fragmentados. Em vez de assumir que o eleitor decide de forma isolada, o modelo reconhece que votar é um ato coletivo, sensível às expectativas sobre o comportamento dos outros.

Nesse contexto, a eleição de 2026 pode ser vista como um jogo de coordenação entre dois blocos: o do governo, liderado por Lula, e o da oposição, que busca um ponto de equilíbrio entre identidade e moderação.
Se as pesquisas confirmarem a tendência de queda na rejeição de Ratinho Jr. e estagnação dos candidatos mais ideológicos, o governador do Paraná tem caminho aberto para se tornar o adversário natural do presidente na disputa presidencial.


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