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terça-feira, 7 de julho de 2020
segunda-feira, 6 de julho de 2020
Avaliação da política de “guerra às drogas”
Avaliação da política de
“guerra às drogas”
Tulio Kahn
Diversos países em todo o mundo
adotaram políticas de enfrentamento ao tráfico de drogas como estratégia para a
redução do consumo e oferta de drogas, bem como da criminalidade e da violência
em geral. Esta política ficou conhecida como “guerra às drogas” e teve início
por volta dos anos 60 nos Estados Unidos, de onde se difundiu mundo afora. Como
em toda política pública, existem objetivos a serem alcançados e ações a serem
colocadas em prática para atingi-los. Existem também resultados – desejados e
indesejados – destas ações. Não obstante a longevidade, o impacto e a dispersão
geográfica da política de “guerra às drogas”, existem poucas avaliações
sistemáticas e rigorosas dos seus custos e resultados.
Uma avaliação abrangente da
política de guerra às drogas envolveria, entre outras tarefas: 1) listar os
objetivos almejados e encontrar indicadores que consigam capturar em que medida
foram ou estão sendo atingidos; 2) listar as ações colocadas em prática e os
indicadores que permitam monitorar sua implementação; 3) listar os resultados desejados
e indesejados – pois políticas quase sempre produzem externalidade - obtidos e
os indicadores que permitam monitorá-los no tempo e no espaço.
Além de encontrar os indicadores
apropriados, a avaliação do sucesso de uma política pública envolve diversos
outros procedimentos teóricos e metodológicos, como o uso de um design
adequado, hipóteses claramente formuladas e o controle de outros fatores de
modo a garantir que os efeitos observados se devem realmente às ações colocadas
em prática, entre outros procedimentos científicos. Desnecessário dizer que uma
avaliação rigorosa é difícil de ser obtida se esta preocupação com a avaliação
não foi pensada desde o início. O design experimental que permita fazer
inferências seguras raramente é uma preocupação dos formuladores de políticas
públicas. O resultado são quase sempre avaliações pouco rigorosas sobre
políticas que custam milhões em volume financeiro e, frequentemente, em vidas,
quando se tratam de políticas de segurança pública.
Para além das questões
filosóficas e teóricas existem as questões operacionais de praxe: mesmo
considerando alguma dimensão do fenômeno relevante, existem indicadores para
mensurá-la? Eles medem de fato aquilo que imaginamos? São medidas confiáveis? É
possível transformar o indicador em equivalente monetário? Nos tópicos
seguintes vamos investigar algumas dimensões de interesse para avaliar o custo
da guerra às drogas, quais seriam os indicadores para mensurar tais dimensões e
virtudes e defeitos de cada um.
A literatura que tratou do tema
considera como indicadores de avaliação
do sucesso da política de guerra às drogas, no que tange aos seus objetivos principais:
reduzir o consumo, reduzir a oferta e reduzir o poderio das organizações
criminosas, entre outros. Através dele podemos ter alguma dimensão sobre o grau
de sucesso da política de guerra às drogas com relação aos seus objetivos
principais, mesmo não se tratando de uma avaliação rigorosa.
Os objetivos das políticas de
guerra às drogas são variados, mas podemos elencar alguns dos principais e
algumas sugestões de indicadores que permitiriam eventualmente medir se os
objetivos foram alcançados:
Indicadores de sucesso da
política de guerra às drogas
Objetivos
|
Indicador
|
Problemas
|
Reduzir o consumo entre os usuários
- Pesquisas domiciliares que medem a incidência e
prevalência do uso de drogas, no tempo. Ou através de Pesquisas do tipo self
repported, onde os usuários relatam suas experiências com drogas.
|
- Diminuir a prevalência entre os jovens.
- Diminuir o número de usuários crónicos
- Aumentar o preço das drogas
- Diminuir o grau de pureza das drogas
- Aumentar a idade média do primeiro uso
|
- Preço das drogas pode ser afetado por diversos
fatores e não mede necessariamente o sucesso na redução do consumo ou da
oferta.
- Crise econômica pode reduzir o consumo,
independente da política de guerra as drogas
- Número de usuários e quantidade de droga
consumida indicam coisas diferentes, pois mais droga pode ser consumida por
um número menor de usuários ou o contrário.
|
Reduzir a oferta de drogas
|
- Aumentar o volume de drogas apreendidas pela
polícia
- Diminuir a área cultivada
- Aumentar a área destruída nas operações
policiais
- Aumentar a destruição de laboratórios e
precursores químicos
|
- Mantida constante a atividade policial, o
volume apreendido pode ser uma proxy para volume de drogas em circulação
- Alguns
destes indicadores não se aplicam as novas drogas sintéticas
|
Reduzir o poder das organizações criminosas e as
consequências do uso
|
– Reduzir o faturamento anual do tráfico
- Aumentar as condenações por tráfico
- Reduzir
o número de crimes associados ao tráfico
- Reduzir custos sociais e médicos associados ao
uso de drogas
- reduzir o número de emergências hospitalares
ligadas ao abuso
- Reduzir a incidência de doenças relacionadas ao
uso (HIV, hepatite C, etc)
|
Como estimar faturamento? Livros caixa
apreendidos? Volume de dinheiro “lavado”?
- Pesquisas com presos por tráfico poderiam jogar
alguma luz na questão
- % de denúncias de tráfico junto ao Disque
Denúncia pode ser utilizado como indicador?
|
Estes são alguns dos indicadores
de sucesso da política de guerra às drogas que normalmente aparecem na
literatura e que pautam a discussão sobre a eficiência da política nos EUA,
embora os indicadores tenham variado de administração para administração. Não
quer dizer que meçam necessariamente o sucesso pois muitas podem ser ambíguas.
O aumento do preço é considerado uma medida de sucesso, como uma consequência
da diminuição da produção e entrada de drogas. Preços maiores desestimulam o
consumo. Em compensação, o aumento de preço, pelas regras do mercado, estimula
a produção, pois os lucros também são maiores. E, na medida que se trata de uma
mercadoria bastante inelástica com relação ao preço (vícios em geral são menos
afetados pelos preços), pode ocorrer uma substituição por drogas mais baratas e
de efeitos ainda mais danosos.
Diminuir a pureza significa, em
tese, que houve sucesso na redução da oferta. Em tese pois o tráfico pode
simplesmente batizar a droga para gerar maiores lucros, independente da oferta.
E a droga batizada, em por outro lado, pode acarretar mais danos à saúde dos
usuários e aumento os custos hospitalares.
Volume de drogas aprendidas, é
sucesso quando aumenta ou quando cai? Quando aumenta, por ser porque estão
entrando mais drogas e não necessariamente por consequência de maior atividade
policial. É preciso controlar a atividade policial para interpretar
corretamente o indicador.
Sabe-se que prisões tem
rendimentos marginais decrescentes: se estão prendendo cada vez mais
traficantes de baixa periculosidade e baixa hierarquia no mundo do tráfico,
então o aumento das condenações pode ser contraproducente. Os baixos escalões
são rapidamente substituídos e tornam-se um ônus para o Estado nas prisões, com
impactos mínimos sobre as organizações criminosas. Ironicamente, na medida em
que o sistema de justiça criminal tira de circulação os competidores mais
fracos, pode contribuir para o fortalecimento das organizações mais poderosas.
Vários destes indicadores, por
fim, variam em função do ciclo econômico – crescimento e retração da economia –
e, portanto, não medem necessariamente a atividade policial. Sem controlar o
nível de atividade econômica e as atividades policiais, não significam muita
coisa.
Tendo em mente estes indicadores,
podemos dizer que estamos ganhando a guerra contra as drogas no Brasil?
Para saber se a prevalência está
diminuindo e a idade do primeiro uso são necessárias pesquisas amostrais
domiciliares, que são feitas apenas esporadicamente, como as pesquisas do CEBRID
e da UNIFESP ou o Global Drug Survey. A redução do tabaco parece ser a única
política bem sucedida nos últimos anos. O consumo de drogas não diminuiu e o
preço da droga ainda é relativamente baixo no Brasil, apesar do encarceramento
em massa de pequenos traficantes e dos milhões injetados na guerra as drogas,
sem falar nos milhares de mortos nas operações contra o tráfico. Não temos séries
históricas de dados consistentes para avaliar o sucesso dos demais indicadores,
mas as evidências qualitativas e anedóticas não parecem sugerir que o
faturamento e o poder dos traficantes de drogas tenham diminuído no país.
Para avaliar os resultados, é
preciso investir na construção de indicadores, banco de dados e análises das
evidências, o que como vimos é raramente feito no Brasil para qualquer
política. Como sempre, a discussão aqui é de caráter doutrinário e ideológico e
muito pouco “evidence base”.Outros países já avaliaram, contudo, a política de
guerras às drogas e as evidências são pouco favoráveis. Gera desperdício de
recursos, infla o sistema carcerário, fortalece os cartei, aumenta a violência
e afasta os usuários do tratamento. No Brasil será diferente?
quinta-feira, 18 de junho de 2020
Custos das políticas de repressão às drogas
A estimativa de custos financeiros
de uma política ou estratégia de segurança é apenas um dos muitos aspectos que
envolvem a avaliação de qualquer política pública. Trata-se de um aspecto
relevante e muitas vezes omitido nas avaliações de políticas públicas. Somente
com um levantamento de custos, todavia, podemos avaliar se os mesmos objetivos
não poderiam ser atingidos com custos menores, tanto para o poder público
quando para a sociedade. E mesmo que uma política seja “eficaz”, é possível que
existam outras políticas mais “eficientes”, quando avaliamos o desempenho
relativo de políticas alternativas.
Não é acidental, todavia, que o
levantamento dos custos seja frequentemente omitido das avaliações de políticas
públicas no Brasil, em especial na área de segurança. Mesmo quando há a
intenção de levantá-los, gestores e pesquisadores enfrentam grandes
dificuldades para encontrar as medidas adequadas ou para transformá-las numa
escala monetária comum. Este problema é tanto maior quando se trata de avaliar
uma atividade ilícita, como por exemplo, o tráfico de drogas. Qual o
faturamento da atividade? Quantas pessoas ele envolve? Quanto o Estado deixa de
arrecadar com a criminalização? Quantas pessoas deixam de visitar uma cidade
por causa da violência associada ao tráfico? Qual o impacto da violência da
guerra às drogas nas gerações futuras? Qual o impacto presente no rendimento do
trabalho e rendimento escolar das comunidades atingidas, como as favelas
cariocas? Quantas mortes de policiais, criminosos e moradores poderiam ser
evitadas?
Na maior parte das vezes contamos
apenas com estimativas mais ou menos precárias para estas incógnitas. Não obstante
as dificuldades, a literatura acadêmica especializada já identificou algumas
maneiras de estimar os custos da violência e das políticas públicas para
combatê-la numa sociedade.
Na esfera da segurança pública,
existem algumas iniciativas que procuraram mensurar os custos da violência. Os métodos utilizados nestas iniciativas podem
servir de inspiração para o problema da mensuração do custo da guerra às
drogas. Na tabela abaixo elencamos resumidamente alguns dos principais métodos
identificados para estimar custos da violência.
Tabela – principais métodos para estimar custos na
esfera da segurança
Método
|
Observações
|
Método contábil
|
Trata-se da maneira mais direta de estimar
custos. A ideia básica é levantar os custos operacionais dos diversos órgãos
responsáveis pela implementação das políticas, utilizando, por exemplo, os
orçamentos anuais oficiais. Inclui-se aqui, por exemplo, os gastos com o
sistema de justiça criminal ou com o sistema de saúde, no tratamento das
vítimas da violência.
|
Método da comparação do valor imobiliário
|
Nesta metodologia, procuram-se informações sobre
valores do metro quadrado de imóveis comparáveis, em diferentes áreas da
cidade. Por exemplo, tomando como base um apartamento padrão, com dois
dormitórios e uma garagem, com aproximadamente 100 metros quadrados.
Seleciona-se um conjunto de áreas que sejam similares com relação a uma série
de variáveis e comparam-se áreas com guerra ao tráfico e sem guerra ao
tráfico. O suposto é que eventuais diferenças nos valores dos imóveis
devem-se à presença da guerra às drogas.
|
Método da disposição marginal a pagar
|
Trata-se de uma pesquisa de opinião com amostra
representativa da população. Pergunta-se ao entrevistado o quanto ele estaria
disposto a gastar ou pagar para viver num ambiente sem criminalidade. (Ou que
porcentagem da sua renda, para controlar pela renda do entrevistado).
Bastante subjetivo pois envolve a propensão ao risco de cada indivíduo. De
todo modo, o suposto é que nos bairros mais violentos estes gastos médios
seriam maiores do que nos bairros menos violentos e as diferenças indicariam
um custo da violência em cada bairro.
|
Método dos juízes
|
No método dos juízes, uma pequena “amostra” de
especialistas num tema é entrevistada para obter estimativas um pouco mais
precisas sobre aspectos de difícil mensuração. Bastante utilizada, por
exemplo, para estimar “pesos” de diversos fatores, quando o pesquisador não
tem como obter medidas objetivas para ponderação.
|
Pesquisas de Vitimização
|
Focadas no levantamento da incidência de alguns
tipos de crimes e das taxas de notificação, muitas pesquisas de vitimização
incluem questões sobre o valor dos bens subtraídos ou danificados e
estimativas sobre o valor necessário para repor os prejuízos.
|
Pesquisas com prisioneiros condenados por tráfico
|
Os presos por tráfico podem ser informantes
valiosos para estimar os efeitos da guerra às drogas, embora sejam de difícil
acesso. Nos países desenvolvidos, pesquisas levantam questões sobre acesso a
armas de fogo, cúmplices nos crimes, carreiras criminais, etc.
|
Estas são em linhas gerais as
principais metodologias utilizadas para estimar os custos da violência e que
poderiam ser utilizadas para calcular o custo da guerra as drogas no Brasil,
que se supõe seja elevado. Para dar uma ideia, cerca de 25% dos presos no país
respondem por crimes ligados a entorpecentes.
Como ressaltava Weber, nenhuma
metodologia é melhor do que outra a priori e elas só podem ser julgadas do
ponto de vista de sua eficácia explicativa. Não é preciso optar por uma ou
outra metodologia, uma vez que mais de uma pode ser usada simultaneamente.
Qualquer que seja a(s)
metodologia(s) empregada(s), é preciso de início tomar algumas decisões sobre o
que incluir ou excluir destes custos. Isto envolve desde posturas filosóficas
diante do fenômeno até questões práticas sobre a existência e confiabilidade
dos indicadores existentes. A intenção é incluir apenas os custos tangíveis ou
também os intangíveis, que embora não contabilizáveis tem valor, mesmo que não
possa ser traduzido em moeda? Pretende-se calcular o custo apenas para esta
geração ou para as gerações futuras? Incluímos apenas o que estamos perdendo ou
também o que deixamos de ganhar? A legalização da maconha em alguns estados
norte-americanos criou um mercado legal em torno do cultivo e venda da maconha,
que é taxada pelo poder público. Pensando neste aspecto, devemos incluir nos
custos da guerra às drogas também o quanto se deixa de arrecadar em impostos?
Estamos diante, frequentemente,
de decisões extra científicas, quando se lista o que incluir ou excluir no
cômputo final dos custos da repressão às drogas. É preciso lembrar que cálculos
de custo-benefício de políticas públicas envolvem quase sempre, implicitamente,
a comparação com outras políticas alternativas. O risco de ser demasiado
conservador nos cálculos dos custos é o de dar suporte à continuidade ou a
adoção de políticas públicas equivocadas. No caso de políticas alternativas
para lidar com as drogas – digamos, esquematicamente, repressão ou prevenção –
os resultados podem depender do que incluímos ou excluímos como “custos” de
cada uma. Neste sentido, a escolha sobre o que incluir ou excluir dos custos
está longe de ser técnica.
Mesmo sem cálculos refinados,
sabemos por avaliações de custo feitas em outros países que existem políticas
alternativas – como a legalização, prevenção, tratamento – no caso de maconha
ou outras drogas menos danosas, cujos custos sociais e econômicos de
implementação são menores do que as políticas repressivas, do tipo “sobe-mata-desce”,
como alguém definiu as operações nas comunidades onde existe o tráfico.
Mas o que fazer com o crack,
heroína, LSD, mescalina, peyote e outras drogas mais deletérias? Mesmo supondo
que a prevenção, tratamento ou redução de danos sejam a melhor opção para o uso
de drogas leves, é possível abandonar de todo a política de guerra as drogas –
entendida basicamente como erradicação do plantio, laboratórios, precursores
químicos e repressão aos traficantes? Algumas
drogas mais pesadas sempre serão ilegais, o que criará mercados negros
rentáveis para serem explorados. A repressão a estes mercados e mercadores não
pode simplesmente ser abandonada pelo sistema de justiça criminal.
Podemos fazer um paralelo aqui
com as penas alternativas: são excelentes para crimes leves e criminosos
primários e pouco perigosos. Mas ela nunca substituirá a pena de prisão em
regime fechado, uma vez que penas alternativas não são aplicáveis a latrocidas,
chefes de organizações criminosas, sequestradores e diversos tipos de
criminosos violentos e reincidentes. Prisões
fechadas e guerra às drogas continuarão a existir indefinitivamente, independentemente
de seus custos. A questão é pensar em que casos se justificam a prevenção e a
repressão e que montante de recursos direcionar a cada estratégia, levando em
consideração tanto a inevitabilidade de continuar reprimindo o tráfico de
drogas pesadas quanto o custo elevado da repressão às drogas leves como a
maconha.
Trata-se de uma decisão política
e extra científica. Estudos sobre os custos implicados em cada política podem
subsidiar a sociedade para tomar as melhores decisões. No momento, como é comum
no Brasil, são as ideologias que orientam as decisões sobre as políticas de
drogas. E ideologias são más conselheiras, como estamos vendo nas políticas de
saúde com relação ao Covid.
terça-feira, 26 de maio de 2020
Análise dos crimes nacionais violentos durante a pandemia
Dados nacionais de CVLI
As estatísticas nacionais de criminalidade nem sempre são atualizadas com a rapidez necessária para a análise de fenômenos repentinos, como uma epidemia. Pelo menos no caso dos crimes violentos intencionais, é possível contar com uma contagem paralela realizada desde janeiro de 2015 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Núcleo de Estudos da Violência e o portal G1.
Os CVLIs englobam não apenas homicídios dolosos, mas outros crimes como latrocínios e lesões corporais seguidas de morte. As motivações para os crimes são diferentes e é provável que a quarentena afete diferentemente crimes como homicídios e latrocínios, cuja motivação é patrimonial.
De todo modo, a maioria absoluta de casos de CVLI são homicídios dolosos (cerca de 90%), de modo que funciona como um bom indicador substituto para a tendência dos homicídios. Os dados são coletados via LAI diretamente junto às secretarias estaduais de segurança e já estão disponíveis até março de 2020.
De todo modo, a maioria absoluta de casos de CVLI são homicídios dolosos (cerca de 90%), de modo que funciona como um bom indicador substituto para a tendência dos homicídios. Os dados são coletados via LAI diretamente junto às secretarias estaduais de segurança e já estão disponíveis até março de 2020.
A tabela abaixo traz o número de CVLIs preditos em cada estado, usando uma série histórica mensal de janeiro de 2015 em diante e diversos modelos de previsão temporal selecionados pelo “expert modeler” do SPSS, que escolhe o modelo que melhor se ajusta à série histórica de cada Estado. Além da previsão, a tabela traz os dados observados de CVLI em março de 2019, fevereiro e março de 2020. As últimas colunas calculam as diferenças entre previstos X observados em março, março de 19 X março 20 e fev 20 X março 20.
De modo geral, os dados de CVLI confirmam uma tendência nacional de crescimento da violência letal intencional durante a quarentena. O aumento médio é de 14% quando comparamos com o previsto e de 11% quando comparamos com março de 2019 e tivemos 507 mortes além das esperadas para o período. Apenas 6 dos 27 Estados tiveram queda dos CVLIs. Os crescimentos mais notáveis ocorreram no Ceará, Pernambuco, São Paulo, Minas e Bahia.
Números absolutos ou taxas?
A maioria das análises que estão sendo realizadas neste período utilizam os números absolutos de crimes para avaliar o impacto do COVID na criminalidade. Mas é preciso lembrar que risco é um conceito epidemiológico que envolve uma população de base no denominador. Ocorre que, durante a quarentena, esta população de base se altera sensivelmente: aumentando, por exemplo, dentro das residências e diminuindo nas ruas.
Quais as implicações disso? Se utilizarmos taxas por 100 mil habitantes ao invés de números absolutos, talvez vejamos que os crimes domésticos podem de fato ter diminuído e os crimes de rua, como os homicídios, aumentado ainda mais do que sugerem os números absolutos. As mortes por CVLI ocorrem em sua maioria fora das residências (100% dos latrocínios e cerca de 80% dos homicídios, tomando São Paulo como base).
Mas devido ao isolamento social, na média, apenas 57% da população brasileira estava circulando nas ruas em março de 2020. Assim, a taxa de CVLI por 100 mil habitantes não é de 21,3:100 mas provavelmente o dobro disso.
A tabela abaixo faz apenas um exercício teórico, para ilustrarmos o ponto. Ela traz os números absolutos de CVLIs em março de 2019 e 2020, a população em março de 2019 e a estimativa de população circulando em cada Estado em março de 2020, com base na taxa de isolamento social calculada pela InLoco, a partir da base de telefones celulares.
As taxas de CVLIs por 100 mil habitantes de 2019 foram calculadas com a população total, mas para as taxas de 2020, talvez o mais correto seja usar uma base de população menor, pois há uma exposição ao risco muito menor em 2020, se considerarmos que os CVLIs são crimes “de rua”. Calculadas as taxas desta forma, vemos que a variação nos homicídios foi muito maior. As taxas passam de 21,3 em 2019 para 41,58 em 2020, um aumento de 95%.
Os cálculos não são exatos, pois as medidas de isolamento não estimam perfeitamente a quantidade de pessoas nas ruas e sabemos que boa parte dos homicídios ocorre nas residências, e neste caso as taxas seriam menores do que as habituais. Em todo caso, a tabela serve para ilustrar o argumento: em termos relativos os aumentos de criminalidade de rua observados devem ser maiores, pois a base populacional diminuiu nas ruas. As análises feitas com base nos cálculos absolutos estão subestimando os crimes de rua e superestimando os crimes domésticos.
Novamente, a análise das séries temporais univariadas podem apenas apontar se estamos diante de mudanças significativas, mas pouco esclarece sobre as dinâmicas e motivações subjacentes. Diversas explicações plausíveis têm sido aventadas pelos especialistas e elas não são excludentes: aumento da violência doméstica em razão da quarentena, acerto de contas entre criminosos, acirrada pela diminuição dos ganhos, queda no policiamento (licenças médicas ou novas escalas) e na vigilância “natural” promovida pela população nas ruas, greves ou ameaça de greves em algumas polícias, aumento no consumo de álcool, estresse provocado pelo aumento do desemprego e queda na renda, maior impunidade com menos suspeitos sendo presos e mais presos sendo libertados.
Em tese as previsões já levam isso em conta, mas tenhamos em mente que os dados de CVLIs já presentavam tendência de crescimento nos últimos sete meses, reflexo, entre outros fatores, da flexibilização com relação às armas de fogo, política que tem início em 2019. Uma análise qualitativa da situação em cada estado poderia ajudar na identificação das hipóteses válidas, mas não é possível fazer isso no âmbito deste artigo.
É possível, como observado, que mais de um destes diferentes fatores tenham influenciado os dados e precisaremos de mais tempo, mais variáveis explicativas, variáveis de controle (adesão ao isolamento social) métodos mais robustos e mesmo novas teorias para tentar identificar as novas tendências na criminalidade nestes novos tempos, durante e depois de passado o auge da epidemia.
Além das questões do tamanho do impacto e do seu sinal, se de aumento ou de queda, a análise epidemiológica do perfil dos casos pode nos ajudar a entender mais a fundo as razões subjacentes. É preciso também uma análise qualitativa sobre a dinâmica da segurança em cada Estado. Independente das dinâmicas locais, muitos países tem apresentado tendência de crescimento dos homicídios durante a pandemia e é possível que causas comuns estejam gerando os mesmos efeitos, em muitos países. Uma análise comparada em nível internacional deve jogar alguma luz sobre o fenômeno.
quinta-feira, 30 de abril de 2020
Impactos da epidemia na criminalidade
A quarentena e o distanciamento
social em razão da epidemia do coronavirus afetam profundamente diversas
dimensões da nossa vida em sociedade. Com a criminalidade não é diferente e
diversos criminólogos, antes mesmo da divulgação dos dados, já previram de
antemão o que poderia acontecer com algumas modalidades de crime.
Embora a adesão ao distanciamento
tenha variado de local para local, o número de pessoas e veículos nas ruas caiu
drasticamente, ocorrendo o inverso nas residências, farmácias e supermercados.
Trata-se talvez do maior “experimento natural” de todos os tempos e uma
oportunidade para o teste de diversas teorias e hipóteses criminológicas.
A teoria do “crime como atividade
de rotina” de Felson e Cohen tem sido bastante lembrada neste momento, pois
esta postula, de modo geral, que mudanças nas rotinas das pessoas explicam em
parte a variação na criminalidade: para que um crime (de contato) aconteça é
preciso que autor e vítima se encontrem em determinado momento no tempo e local
no espaço, na ausência de mecanismos de vigilância. (Cohen, Lawrence E.; Felson, Marcus (1979). "Social Change and
Crime Rate Trends: A Routine Activity Approach". American Sociological Review. 44 (4): 588–608).
Assim, por exemplo, a expectativa
é que durante uma quarentena os arrombamentos residenciais diminuam, pois há
mais pessoas em casa vigiando a propriedade, enquanto os arrombamentos
comerciais aumentam. Como as pessoas estão mais tempo em casa e na internet, é
possível prever o aumento da violência doméstica e das fraudes virtuais. Por
outro lado, devem cair os furtos e roubos de automóveis, com o menor número de
veículos em circulação. O crime organizado pode absorver o prejuízo por um
tempo – como outras “empresas” – ou pode migrar para outras modalidades de
crime, trocando, por exemplo, o tráfico de drogas pelo roubo de carga, que
continua circulando. Já exploramos num artigo anterior algumas destas possíveis
mudanças. https://tuliokahn.blogspot.com/2020/03/coronavirus-e-seguranca-publica.html
Os dados criminais de março
começam a ser divulgados por alguns Estados e já é possível colocar a prova
algumas conjecturas iniciais. Neste artigo analisamos brevemente alguns tipos
de crimes disponibilizados pelas secretarias estaduais de segurança de São
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Distrito Federal.
Infelizmente, como sempre, o SINESP, sistema estatístico de criminalidade
federal, traz ainda dados de 2019, inviabilizando uma análise mais precisa do
fenômeno atual.
A avaliação do impacto do
fenômeno, apesar da mudança brusca nas rotinas, não é tão simples como parece.
De fato, tenho participado de um grupo de debates com alguns dos principais
criminólogos da atualidade (entre eles, o próprio Felson !) sobre a melhor
maneira de capturar os efeitos da pandemia na criminalidade.
Alguns jornais tem já comparado
os dados de março com fevereiro de 2020, numa comparação temerária, pois não
leva em conta a sazonalidade e tendência dos fenômenos criminais. Mais correto
seria comparar março de 2020 com 2019, para contornar o problema da sazonalidade.
Mas este cuidado talvez não seja o suficiente, pois não leva em consideração a
tendência anterior nem outros incidentes que podem ter ocorrido na série
histórica de crimes, como “pulsos”, “quebras de nível” e outros. Assim, alguns
colegas (eu, Ned Levine, Mathews Ashby, Vania Ceccato) têm recomendado a
necessidade de “controles”, ou seja, levar em consideração a tendência esperada,
antes de fazer a comparação com os dados mais atuais.
Existem alguns diferentes métodos
para fazer esta modelagem das séries históricas e não vou me aprofundar nisso –
técnicas como ARIMA, SARIMA, sazonal simples, aditivo de Winters, etc – e o
leitor interessado pode facilmente encontrar referencias a estas técnicas na
internet. Qualquer que seja a técnica utilizada na modelagem, no final obtemos
um “número esperado de crimes” para março de 2020. De modo que podemos comparar
o número observado em março de 2020 com este número previsto e que já leva em
consideração as tendências anteriores da série de dados.
A tabela abaixo (infelizmente
ainda em inglês) traz os números observados de casos em março de 2019,
fevereiro e março de 2020. E os números previstos de casos, em fevereiro e
março de 2020. Traz ainda, na sequencia, a diferença absoluta entre o número
observado e previsto em março de 2020. Temos então os dados necessários para
construir as últimas três colunas: diferença percentual entre observado e
previsto em março de 2020, diferença percentual entre março de 2020 e março de
2019 e finalmente, diferença percentual entre março de 2020 e o mês anterior.
As três colunas mostram que as
alterações foram grandes e na direção predita: queda da apreensão de armas e
drogas, refletindo a diminuição da circulação destes produtos. Queda nos crimes
patrimoniais, como furtos e roubos. Aumento dos homicídios dolosos, sem
detalhes ainda sobre a natureza destes homicídios, se interpessoais ou não.
Podem se tratar de crimes interpessoais ou disputas entre gangues, aproveitando
a queda na vigilância natural, como parece estar ocorrendo no Ceará. Finalmente, queda nos estupros e nas lesões
corporais dolosas, crimes que não sabíamos ao certo se aumentariam ou
diminuiriam, uma vez que boa parte deles é de natureza doméstica ou
interpessoal. É preciso tomar cuidado com relação a estes dois últimos, pois
apesar das secretarias de segurança terem aumentado a possibilidade de registro
on-line de ocorrências, é possível que a convivência com o agressor tenha
inibido a notificação de muitos casos.
Impacto da quarentena na
criminalidade: crimes e estados selecionados
Felson tem em parte razão ao
argumentar que se trata de um experimento natural tão intenso que talvez nem
precisemos de controles e métodos estatísticos sofisticados para capturar os
efeitos, bastando comparar períodos iguais e alguma aritmética básica. De fato,
a comparação fevereiro com março de 2020 na última coluna capta em parte os
efeitos da quarentena, mas ele tende a atenuá-los, uma vez que não leva em
conta a sazonalidade e tradicionalmente março tem mais crimes do que fevereiro,
um mês mais curto e de férias.
A comparação março 20 com março
19 (penúltima coluna) controla pela sazonalidade e produz resultados em geral
muito parecidos com a comparação previsto/observado (ante penúltima coluna).
Mas como ela não leva em consideração a tendência, há algumas discrepâncias
entre elas. Veja se por exemplo o caso dos homicídios: temos uma tendência de
crescimento dos homicídios no país desde o segundo semestre do ano passado. O
número esperado de casos, portanto, é bem maior do que o observado, não apenas
por conta dos efeitos da quarentena, mas também por conta da tendência
anterior.
Observe-se particularmente o caso
do Distrito Federal. Comparado com o ano anterior, há uma queda de -6,4% nos
homicídios. Mas se levarmos em conta a comparação com o número de casos
esperados, há um aumento de 15,8% nos homicídios, acompanhando o que aconteceu
em Minas, Rio e São Paulo. A interpretação é totalmente diferente. Acontece o
mesmo com o roubo de carros no Rio Grande do Sul: a comparação com o mesmo
período do ano anterior sugere uma queda de 10,3% durante a quarentena. Mas
quando levamos em conta a tendência anterior e o número previsto de casos, sugere-se
que houve um aumento de roubo de carros no Estado durante a quarentena.
Existem outros casos dúbios que o
método da modelagem e da comparação entre o observado e o esperado ajuda a
esclarecer. É o caso dos estupros, roubos e roubos de carga em São Paulo, cuja
queda parece ser mais acentuada durante a quarentena do que sugere a simples
comparação com o mesmo período do ano anterior.
Só quando tivermos passado a
quarentena e dados de mais meses,
modalidades de crimes e Estados, conseguiremos ter uma visão mais abrangente de
qual foi o impacto da epidemia sobre a criminalidade. E a partir dai, deveremos
ter o impacto da forte recessão e desemprego sobre a criminalidade, já
observada em outras recessões do passado.
Como sempre, é importante termos
as ferramentas e os métodos corretos para conseguir interpretar corretamente o
que está acontecendo. Como no combate contra a COVID, sem os dados e
indicadores certos, não conseguimos entender e controlar a epidemia, seja na
saúde, seja na segurança pública.
sexta-feira, 24 de abril de 2020
Número básico de reprodução do COVID: na dúvida, melhor ser prudente
O tal coeficiente RO - número
básico de reprodução - é um indicador importante para ajudar a decidir quando
se deve iniciar a flexibilização do isolamento social. Como publicado em
diversos meios, se RO > 1 a epidemia está em expansão, RO = 1 em equilíbrio e
R0 < 1 em diminuição.
Há diversas formas de calculá-lo,
mas a mais adotada é a versão SIR de 1927, publicado em "Uma contribuição
para a teoria matemática das epidemias". O problema é que para calcular RO
é preciso conhecer as variações na quantidade de (S)uscetíveis, (I)nfectados e
(R)etirados, ou seja, os que morreram ou ficaram imunes. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Modelo_epid%C3%AAmico).
No caso da COVID19 ainda não se
sabe ao certo se os imunes voltam posteriormente para a categoria dos
Suscetíveis, o que implicaria que um modelo SIRS seria mais correto. Como no
COVID todos são em tese Suscetíveis, este parâmetro é relativamente fácil de
encontrar. O problema é que não sabemos ao certo a quantidade de Infectados,
pois até agora o Brasil não conseguiu fazer uma pesquisa amostral sorológica
para estimar este parâmetro.
A estimativa de (R)ecuperados também
é temerária pois como sabemos as mortes por COVID estão subestimadas (20% ?) , baseando-se no crescimento das SRAGs.
Além disso, a maioria dos infectados e
que já se recuperaram não foi sequer identificada, uma vez que a doença é
assintomática em parte dos casos (18% ?) e fraca na maioria dos casos (80%). De
modo que tenho muita curiosidade em saber em que dados estão baseados os
cálculos de RO que circulam por ai, numa velocidade mais rápida do que a
epidemia.... O pior é que alguns governos querem se basear nestes cálculos para
definir o melhor momento da flexibilização do isolamento.
Diante destas deficiências empíricas-
que não são apenas do Brasil e desta epidemia- os pesquisadores procuram
versões mais simples para o cálculo para RO. Uma delas é a divisão entre o
coeficiente (exponencial) da curva de mortes, do início ao pico, pelo coeficiente
(exponencial) da curva de mortes, do "pico" em diante. O problema
desta versão é que ela serve apenas a posteriori, quando sabemos onde ocorreu o
pico. Mas precisamos de algo para nos guiar durante a epidemia. (Cálculo de
tasa de reproductividad (R0) simplificando modelo SIR aplicado a epidemia de
gripe A (H1N1) de 2009 en Brasil. Kelser de Souza Kock,¹ Estevan Grosch
Tavares,² Jefferson Luiz Traebert,¹ Rosemeri Maurici²)
Em última instância o que o modelo
SIR quer saber é se a velocidade de expansão da epidemia está involuindo e a
partir de que momento passa a ser negativa. Na falta de dados confiáveis, uma
equipe de engenheiros da Catalunha tem utilizado um modelo muito simples, mas
engenhoso, “baseando-se apenas no número de casos novos conhecidos de um dia,
dividido pelo número de casos novos conhecidos de cinco dias atrás.” https://www.ccma.cat/324/esta-baixant-la-velocitat-de-propagacio-del-coronavirus/noticia/3001295/
A título de curiosidade apliquei
este cálculo simples aos dados brasileiros de novas mortes. Ele sugere que a
taxa de reprodução básica começa elevada em março (cerca de 7) e vai caindo
progressivamente, até uma média de 1,2, considerando os últimos 3 dias. É mais
uma evidência de que a estratégia do isolamento social está conseguindo “achatar
a curva”.
Para dar uma ideia do que
significam estes valores, o estudo do Imperial College que construiu os
cenários de mortes da COVID para todo o mundo utilizou como parâmetro RO = 3 e
a outros estudos estimam que no início da epidemia RO = 2,6.
É preciso tomar cuidado com este
cálculo, pois como vimos está longe de ser tão completo quanto o SIR
tradicional. E os dados brasileiros oscilam demasiado dia após dia, pois até
hoje os governos não conseguiram manter um fluxo regular de testagem e contagem
das mortes. Tanto é assim que nos dias em que as mortes ficam represadas, RO
chega a ser < do que 1. Uma média móvel, nestas oscilações, é sempre mais
informativa.
O novo ministro da saúde tem razão
neste ponto. Nossos dados e conhecimentos sobre a epidemia são precários. A
conclusão que eu tiro é diferente: na dúvida, melhor estender o isolamento
social o máximo possível, até que melhores informações estejam disponíveis.
quarta-feira, 22 de abril de 2020
Contribuições ao estudo da morfologia do Covid19
Nos anos 2000 vivíamos uma epidemia de
homicídios no Estado de São Paulo, com mais de 12 mil mortes por ano. Hoje os
números ainda são elevados, mas baixamos para menos de 5 mil, numa das quedas
de criminalidade mais significativas do mundo. Parte deste sucesso se deveu ao
uso de ferramentas epidemiológicas: informação rápida e correta sobre locais
dos homicídios, horários, meios utilizados, perfil da vítima e de autores, etc.
E gestão, monitorando estes indicadores mensalmente e cobrando os gestores
locais.
Por isso, durante a crise do coronavirus
achei importante deixar um pouco a segurança pública de lado e investigar
tendências e padrões da epidemia do Brasil. Assim como na queda dos homicídios,
tenho confiança que o uso da epidemiologia é crucial para que governo e
sociedade possam gerir a pandemia.
Além de alguns artigos e entrevistas,
tenho publicado gráficos e breves comentários sobre as características da
epidemia nas redes sociais. Neste artigo faço um rápido apanhado das
publicações recentes, com links para quem quiser detalhar o fenômeno. Alguns dados
ficaram defasados, pois o fenômeno evolui rapidamente. Por isso ao invés de
postar os gráficos originais coloco aqui os links, pois o sistema de
monitoramento é atualizado diariamente.
1)
Durante uma epidemia que cresce rapidamente, um dia de diferença faz
muita diferença nas estatísticas.! Assim, não se deve comparar números
absolutos e nem mesmo taxas ou variações % de países ou Estados cujas epidemias
começaram em datas diferentes. Uma forma de contornar isso é comparar o número
de dias que se passaram depois que o Estado/ País atingiu 50 mortos. Ou usar o
indicador "tempo de duplicação", calculado como Log(2)/ r, sendo r a
taxa de variação percentual. Ai é possivel comparar locais diferentes. Em
abril, nosso tempo de duplicação passou de 3,4 para quase 11, o que é uma forma
de ver como a epidemia desacelera e como estamos com relação aos outros países.
Para dar uma ideia, na Itália o tempo de duplicação hoje é de 21 dias e na
Espanha 18 dias. Estamos melhorando, mas ainda longe do ideal. #ficaemcasa. https://public.tableau.com/shared/HZRK8Y4WC?:display_count=n&:origin=viz_share_link
2)
Apenas alguns países ultrapassaram claramente o pico da epidemia (China
e Coreia do Sul). Mas existem evidências de que alguns outros países já
atingiram recentemente o ápice e começam a desacelerar a curva. Os dados
diários são voláteis e confundem a análise de tendências. De todo modo, creio
que os países listados estão neste caminho. Interessante observar que, depois
de ultrapassada cinco mortes, passaram-se em média 24 dias para que atingissem
o pico. Quase todos adotaram distanciamento social rigoroso. Brasil superou
cinco mortes há 22 dias, mas o distanciamento é apenas moderado. O que
significa que deve demorar mais que esta média. Pico estimado para metade de
maio, ceteris paribus. #coronavirus
3)
A epidemia nos países do terceiro mundo começa trazida pelos turistas
voltando da Europa. Por isso os bairros nobres concentraram os casos
inicialmente e os hospitais privados foram os primeiros e identificar e sentir
o impacto da epidemia. Foram também os municípios mais ricos os que primeiro
apresentaram casos. Conforme epidemia se alastra, vai esmorecendo correlação
inicial entre renda per capita do município e taxa de confirmados por 100 mil
hab. Por outro lado, aumenta a relação inversa entre taxa de mortalidade do
COVID19 e renda per capita municipal: mortes estão ligadas a falta de estrutura
de saúde, como saneamento básico e rede hospitalar. https://public.tableau.com/views/Siscovid/correlao?:display_count=y&:origin=viz_share_link
4)
A distribuição percentual de novas mortes por covid19 não se dá
igualmente pelos dias da semana. Isto tem relação com o represamento de
confirmações nos finais de semana. Como consequência, Isto diminui a frequência
de mortes confirmadas nas segundas e terças e aumenta nas quintas e setxas Esta
irregularidade da coleta atrapalha as projeções, pois observamos quedas e
aumentos "artificiais" no número de novos casos, dependendo do dia da
semana! É preciso regularizar o fluxo de informações. Ou então trabalhar com
“médias móveis” maiores, de quatro a cinco dias, de modo a obter estimativas
mais estáveis. Um grupo de analistas que auxilia o município de São Paulo
publicou um gráfico onde a taxa de duplicação de casos na capital era de 30
dias!!! Melhor do que a de países que já ultrapassaram o pico, como Itália ou
Espanha. Isto porque o dado de variações de mortes naquele dia específico tinha
sido excepcionalmente baixo, alterando todos os indicadores. Nestes e em outros
casos, o uso de médias móveis ajuda a suavizar as séries e fornece estimativas
mais precisas. Ainda no que tange a qualidade dos dados, não se publica
regularmente no Brasil o número de altas hospitalares e assim não temos o
número de casos ativos. Isto dificulta computar R0, que é a taxa de reprodução
do vírus, um dos parâmetros chave para conhecer o fenômeno se propaga. https://public.tableau.com/shared/DMGJTTYKF?:display_count=y&:origin=viz_share_link
Além dos posts nas redes sociais, escrevi
alguns breves artigos aprofundando alguns aspectos da epidemia. Para os
interessados, deixo aqui os links para consulta:
1º de abril: sobre o tamanho da
subnotificação. https://www.linkedin.com/pulse/qual-o-tamanho-da-subnotifica%C3%A7%C3%A3o-de-casos-covid19-brasil-tulio-kahn
30 de março: sobre monitoramento do
distanciamento social. https://www.linkedin.com/pulse/informa%C3%A7%C3%A3o-r%C3%A1pida-e-correta-pode-reduzir-o-impacto-do-tulio-kahn
26 de março: sobre a letalidade do vírus.
https://www.linkedin.com/pulse/qual-letalidade-do-coronavirus-brasil-tulio-kahn
25 de março: sobre a desaceleração de
casos. https://www.linkedin.com/pulse/taxa-de-varia%C3%A7%C3%A3o-mortes-por-coronavirus-desacelera-nos-tulio-kahn
13 de março: sobre a desaceleração de
casos. https://www.linkedin.com/pulse/transmiss%C3%A3o-do-coronavirus-desacelera-ultrapassados-500-tulio-kahn
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