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quinta-feira, 8 de setembro de 2022
terça-feira, 6 de setembro de 2022
Sobre o uso de evidências na gestão pública
sexta-feira, 26 de agosto de 2022
Correlatos dos roubos de veículos nos Estado na última década
Há uma literatura relativamente
abundante sobre a dinâmica dos homicídios no Brasil, justificada pela gravidade
do fenômeno, procurando entender os motivos para o crescimento do fenômeno a
partir dos anos 80 e sua queda, mais recentemente, desde meados de 2017. Porém
existem bem menos estudos dedicados a outros crimes, como os roubos de veículos
e outros crimes patrimoniais, que também estão em tendência de queda nos anos
recentes, na maioria dos Estados.
O gráfico abaixo traz a taxa de
roubo de veículos por 100 mil habitantes por UF, entre 2010 e 2021. É possível
identificar aumentos mais intensos no Acre, Paraíba, Piauí, Rondônia, Roraima e
Sergipe, todos eles estados menos desenvolvidos das Regiões Norte e Nordeste.
Observe-se que estas são também as Regiões onde os homicídios têm crescido nos
últimos anos (e é possível que os dois fenômenos estejam relacionados: mais
roubos = mais sensação de insegurança = mais armas = mais homicídios, mas este
é outro artigo).
Na maioria dos Estados, contudo,
é nítida a queda dos roubos de veículos nas últimas décadas, principalmente no
Sudeste, como no Rio e em São Paulo, que concentram o maior número de casos.
Existem várias tentativas de
explicação para o fenômeno, como a melhora nos equipamentos de segurança dos
automóveis, o monitoramento por GPS e outras tecnologias, a intensificação da
fiscalização dos desmanches e venda de peças usadas, aumento de prisões e
gastos em segurança, migração para crimes digitais como os estelionatos, para
citar apenas algumas.
Como se trata de fenômeno que
atingiu grande número de Estados e mais ou menos no mesmo período, gosto de
imaginar que variáveis macroeconômicas e sociais estão também por trás do processo:
dinâmica demográfica, renda, ciclos econômicos e outras. Estas variáveis ajudam
a entender também por que observamos quedas nos Estados mais desenvolvidos e
crescimento nos menos desenvolvidos.
O modelo abaixo usa dados em
painel para os 27 Estados e 11 anos, de 2010 a 2021 e permite submeter a teste
algumas das variáveis mencionadas. Infelizmente não dispomos de dados sobre o
uso das novas tecnologias de monitoramento nos veículos, migração para outros
crimes ou repressão aos desmanches, por UF e ano e certamente o modelo omite
variáveis importantes. Parte destas omissões é sanada pelo uso do painel com
efeitos fixos, mas isto não resolve o problema de todo.
Existem dados sobre número de
prisões de adultos e menores e despesas dos Estados em segurança por UF e ano,
mas nestes casos, é provável imaginar que temos problemas de endogeneidade,
como causação recíproca: número de prisões e despesas em segurança afetam a
criminalidade, mas inversamente, criminalidade também afeta os número de
prisões e as despesas em segurança. O problema da endogeneidade poderia ser
minimizado com o uso de variáveis instrumentais (que estão relacionadas com
estas variáveis explicativas, mas não com os erros da regressão). Mas não é
fácil encontrar variáveis deste tipo, que estejam relacionadas, por exemplo, ao
gasto em segurança, mas não relacionadas ao crime. Nos testes preliminares,
estas variáveis de esforço da atividade policial aparecem relacionadas
positivamente com os roubos, diferente do esperado. Mas estas estimativas são
enviesadas e pouco confiáveis na ausência de um bom “instrumento”.
O modelo, portanto, tem suas
limitações e se atem a algumas variáveis demográficas e sócio econômicas que se
assume sendo exógenas. A variável dependente é a taxa de roubo de veículos por
100 mil habitantes, cuja vantagem é contar com uma boa notificação, uma vez que
se trata de bem de alto valor e geralmente segurado. Como variáveis
explicativas adicionamos o coeficiente gini de concentração de renda, a taxa de
fecundidade defasada em 15 anos, uma variável dummy para Covid (1 para 2020 e
2021 e 0 para os demais anos) e um indicador de ciclo econômico, oriundo da
Pesquisa Mensal do Comércio do IBGE. Incluímos também no modelo a busca pelo
termo “porte de arma” coletada através do Google Trends. A busca por armas de
fogo está intrinsecamente relacionada ao medo do crime e incluímo-la aqui como
uma proxy de “sensação de insegurança”, na impossibilidade de mensurar
diretamente o fenômeno.
.
xtreg txrveic gini fecdef15
covid gogtrend ciclopmc , fe vce(robust)
Fixed-effects (within) regression Number of obs =
284
Group variable: codeuf Number of groups =
27
R-sq: Obs
per group:
within = 0.1093 min
= 9
between = 0.0012 avg
= 10.5
overall = 0.0139 max
= 11
F(5,26) = 12.65
corr(u_i, Xb) = -0.2512 Prob > F =
0.0000
(Std. Err.
adjusted for 27 clusters in codeuf)
------------------------------------------------------------------------------
| Robust
txrveic | Coef. Std. Err. t
P>|t| [95% Conf. Interval]
-------------+----------------------------------------------------------------
gini |
-178.9162 94.88386 -1.89
0.071 -373.9528 16.12039
fecdef15 | -21.07845 14.81514
-1.42 0.167 -51.53139
9.374502
covid | -28.65656 5.683228
-5.04 0.000 -40.3386
-16.97451
gogtrend | .5949738 .1909934
3.12 0.004 .2023813
.9875664
ciclopmc | 17.23177 5.267683
3.27 0.003 6.403896
28.05965
_cons | 197.378 43.88613
4.50 0.000 107.1688
287.5873
-------------+----------------------------------------------------------------
sigma_u | 43.474597
sigma_e | 34.998082
rho | .60677284 (fraction of variance due to u_i)
------------------------------------------------------------------------------
A análise dos coeficientes sugere que a taxa
de roubo de veículo está relacionada negativamente como a concentração de renda
no Estado. Em outras palavras, quanto maior a concentração de renda, menor o
roubo de veículo. A taxa de fecundidade defasada não se demonstrou estatisticamente
significativa, mas é curioso notar que o sinal da relação é negativo. Em ambos
os casos, o esperado, segundo a hipótese de que desigualdade e pobreza geram
criminalidade, é que o sinal fosse positivo, uma vez que tanto gini elevado
como fecundidade elevada são características de regiões mais pobres e desiguais.
O modelo sugere que as taxas de roubo foram mais elevadas no período analisado nos
Estados mais ricos e desenvolvidos, favorecendo a hipótese de que - ao
contrário dos crimes contra a vida, ligados à pobreza - , os crimes contra o
patrimônio estão ligados às oportunidades criminais. É nos Estados mais ricos e
desenvolvidos que existem mais veículos disponíveis e eventualmente um maior
comércio de peças usadas e esta disponibilidade parece aumentar esta modalidade
criminal. No mesmo sentido vai a variável ciclo PMC, cujo coeficiente é
positivo e significativo, indicado que os roubos de veículo tendem a aumentar
justamente nos anos em que o comércio vai melhor.
A dummy para Covid se comportou como esperado,
significativa e negativa, comprovando a queda da criminalidade patrimonial
durante a pandemia, que reduziu drasticamente a quantidade de veículos em
circulação, novamente sugerindo que “a oportunidade faz o ladrão”. Finalmente,
o modelo sugere que a relação é positiva e significativa entre roubo de
veículos e a variável busca por “porte de arma” do Google. A interpretação aqui
é que nos anos e Estados em que há mais roubos, há também mais busca por armas
pela população, sugerindo que o medo de ser roubado alimenta a busca por porte
de armas. A busca por armas cresceu em praticamente todos os Estados no
período, mas especialmente naqueles em que as taxas de roubo de veículo foram
mais elevadas. É interessante observar que se o modelo nos ajuda a entender
alguns aspectos da distribuição e etiologia dos roubos de veículos, ele parece
contribuir pouco para a explicação da dinâmica temporal e por qual o motivo os
roubos de veículos começaram a cair abruptamente nos últimos anos. Alguma coisa
grande aconteceu neste meio tempo, mas ainda nos faltam hipóteses de trabalho
mais elaboradas e dados para entender o fenômeno.
quinta-feira, 18 de agosto de 2022
Presença nas redes sociais determina intenção de voto?
Não existe consenso sobre o impacto
que a presença dos candidatos nas redes sociais tem sobre as eleições. Trata-se
de um fenômeno relativamente recente e pouco estudado. No Brasil, o uso das
redes sociais de forma massiva durante as eleições ocorreu mais intensamente a
partir das eleições de 2018, quando Bolsonaro, disputando por um pequeno
partido e com poucos recursos, venceu as eleições presidenciais. Argumenta-se
que a campanha pelas redes teve papel relevante nas campanhas de Obama e Trump,
mas é difícil isolar especificamente o papel das redes nestes resultados.
Nas últimas eleições
presidenciais, analistas atribuíram parte do bom desempenho de Bolsonaro ao
engajamento do candidato nas redes sociais, quando inclusive foi acusado de
práticas ilegais como disparo em massa de mensagens pelo WhatsApp e disseminação
de fake news, práticas objeto de investigações pela justiça. As práticas abusivas
durante as campanhas passaram a ser mais bem controladas pelo TSE e pelas próprias
empresas nas eleições subsequentes, embora ainda seja grande a quantidade de
informações enganosas que circulam pelas redes.
O Estadão lançou recentemente uma
ferramenta onde é possível acompanhar o tamanho, crescimento e engajamento dos
candidatos presidenciais nas principais redes – com exceção do Tik Tok, última
moda entre os jovens. Por outro lado, os agregadores de pesquisas eleitorais
nos dão uma boa noção do potencial de voto em cada candidato. A questão interessante
que se coloca é saber se e em que medida a presença nas redes tem de fato se
traduzido em intenção de votos para os candidatos.
A tabela abaixo traz o número de
seguidores dos quatro principais candidatos à presidência. Em conjunto, os
candidatos mobilizam quase 63 milhões de pessoas, o que equivale a
aproximadamente 40% do eleitorado brasileiro, estimado em 156 milhões. (o
cálculo não é exato, pois há seguidores nas redes que não são eleitores).
Bolsonaro tem 47 milhões de seguidores, o equivalente a 30% do eleitorado.
Lula, em comparação, tem “apenas” 10 milhões de seguidores, o equivalente a
cerca de 7% dos eleitores. Ciro tem pouco mais de 4 milhões e Simone Tebet não
chega aos 700 mil seguidores.
Candidato |
Facebook |
Twiter |
Instagram |
Youtube |
total |
% eleitores |
Bolsonaro |
14604896 |
8553027 |
20397946 |
3740000 |
47295869 |
30.2% |
Lula |
499461 |
3973664 |
5622670 |
513000 |
10608795 |
6.8% |
Ciro |
974162 |
1434985 |
1281373 |
480000 |
4170520 |
2.7% |
Tebet |
160582 |
334024 |
179973 |
8960 |
683539 |
0.4% |
|
16239101 |
14295700 |
27481962 |
4741960 |
62758723 |
40.1% |
Número de seguidores não é a
única métrica relevante, pois há que se levar em conta a intensidade do
engajamento e o uso de outros sistemas como o WhatsApp ou Telegram, que são
ferramentas de comunicação mas também bastante utilizadas no Brasil para a
transmissão de informações sobre política. De todo modo, podemos supor que o
número de seguidores reflita de algum modo a presença dos candidatos nas redes.
Bolsonaro tem a maior parte dos
seguidores no Instagram (43%) e no FaceBook (30,9%) enquanto Lula concentra seus
seguidores no Instagram (53%) e Twitter (37,5%), assim como Ciro Gomes (34,4%).
É digno de nota que apenas 4,7% dos seguidores do petista venham do Facebook. Tebet
tem praticamente metade dos seus seguidores no Twitter(48,9%), que de todas é a
mais politizada e que mais “viraliza” conteúdos. Embora todos tenham presença,
o Youtube é a plataforma menos utilizada pelos candidatos para angariar
seguidores.
Quem acompanha as pesquisas de
intenção de voto percebe a primeira vista que número de seguidores não se
traduz necessariamente em capital eleitoral. Tomando os dados do agregador de
votos do Estadão desta primeira quinzena de agosto, vemos Lula com 45% das
intenções de voto, seguido por Bolsonaro com 32%, Ciro Gomes com 7% e
finalmente, Tebet com 2% das menções.
No caso de Bolsonaro há algum equilíbrio
relativo entre presença na rede e intenção de voto: o presidente se comunica
com 30% do eleitorado nas redes sociais e obtém 32% das intenções de voto. Ciro
e Tebet, por outro lado, tem claramente mais eleitores do que seguidores nas
redes. A maior distorção, todavia,
aparece no caso de Lula, que tem aproximadamente 6,6 vezes mais eleitores do
que seguidores nas redes. Visto de outro modo, Lula se comunica nas redes com
apenas 15% do seu eleitorado, estimado em 70 milhões de pessoas.
O capital político do ex-presidente,
um político tradicional e analógico, digamos assim, está em grande parte fora
das redes sociais, ainda na memória dos eleitores – a grande maioria dos quais
não se interessa em acompanhar ou interagir com seu candidato. O perfil de
renda, escolaridade, regional e demográfico dos eleitores de cada candidato
também impacta na maior ou menor presença nas redes e explica parte destas diferenças
de estilo das candidaturas: mulheres nordestinas de baixa renda e escolaridade
tendem a votar em Lula, mas é improvável que acompanhem o candidato nas redes
sociais.
Políticos bem conhecidos e bem
avaliados, portanto, podem ainda “compensar” uma reduzida presença nas redes
com seu “capital político” tradicional: organização partidária, ramificação
municipal, carisma, recursos econômicos, tempo de TV, militância, etc. Existem
assim diversos outros tipos de recursos que podem contrabalançar o uso das redes,
onde em geral os candidatos falam para seus próprios convertidos. E o contexto
macro-político e econômico muda a cada eleição, favorecendo ou desfavorecendo
representantes do governo ou da oposição. Em resumo, existem dezenas de outras
variáveis que explicam e determinam a intenção de voto, para além da presença
nas redes. Seu peso pode ser mais decisivo em eleições proporcionais, onde
muitos candidatos desconhecidos disputam a atenção dos eleitores.
A campanha eleitoral acaba de
começar oficialmente e é preciso aguardar para ver o impacto do uso das redes
pelos candidatos nas intenções de voto. As pesquisas eleitorais mostram que as
preferências dos eleitores já estão bastante consolidadas e a campanha será
curta. Há muito mais controle também sobre o uso das redes nas eleições. Embora
Bolsonaro leve vantagem sobre Lula neste quesito, tudo leva a crer que dificilmente
a presença nas redes terá o potencial, por si só, de alterar o cenário
eleitoral atual.
quinta-feira, 4 de agosto de 2022
Fim das saidinhas é a saída para reduzir o crime?
Fim das saidinhas é a saída para reduzir o crime?
Tulio Kahn
Projeto recente aprovado por ampla maioria dos deputados altera as regras para a concessão do benefício da saída temporária aos presos, vedando esta possibilidade. O projeto ainda vai para análise do Senado, mas em razão do apelo popular da medida e do contexto eleitoral, tem chances de ser aprovado, como foi na Câmara.
A saída temporária já é bastante
limitada e pode ser concedida a presos em regime semiaberto, que tenham bom
comportamento, tenham cumprimento mínimo de um sexto da pena, se o condenado
for réu primário, e um quarto da pena, se reincidente, e de compatibilidade do
benefício com os objetivos da pena.
Trabalhei no sistema
penitenciário de São Paulo entre 1997 e 1999 e sempre me surpreendeu, como
observador das estatísticas que em média apenas 8% dos presos não voltavam no
prazo previsto. Ou seja, 92% retornavam, mesmo com as péssimas condições de
cumprimento da pena. O motivo é que os presos que conseguiam o benefício já se
encontravam em geral em fase avançada do cumprimento da pena e em regime mais
brando. O não retorno implicaria na perda do benefício e retorno ao regime
fechado. Especulo que quanto mais próximo ao final da pena, maior seja a taxa
de retorno e sendo verdadeira a hipótese, uma alternativa seria simplesmente
exigir um cumprimento mínimo de pena maior.
Qual é a lógica subjacente às
saídas temporárias? A pena de prisão tem diversos objetivos e entre os
principais está, principalmente, a reintegração do preso à sociedade. E o
entendimento é de que é melhor para esta futura reintegração – pois mais cedo
ou mais tarde eles serão libertos – é que o indivíduo mantenha alguns vínculos
com a sociedade, família, amigos e que estes vínculos sirvam como obstáculos
contra a reincidência.
Existem evidências de que os condenados a
regimes mais brandos, por exemplo, a medidas restritivas de direito, tem taxas
de reincidência menores dos que os que foram condenados à prisão em regime
fechado. Sendo corretos os dados (não é uma pesquisa fácil de ser feita, pois
existem muitas diferenças iniciais entre os dois grupos), é vantajoso para a
sociedade a manutenção destes vínculos entre os beneficiados e a sociedade:
sim, alguns cometem crimes durante as saídas e outros não retornam. Mas numa
análise de custo benefício, reduzir a reincidência em longo prazo parece
compensar os “custos” da liberação.
Outra questão é saber se todos os
que atendem aos requisitos formais devem ter automaticamente o benefício ou se
é preciso uma avaliação individualizada.
A individualização da pena, afinal, é
outro princípio da política penal. Nos anos 90 em São Paulo, ainda vigorava a
regra de que tanto para a progressão da pena quanto para a concessão de benefícios
como as saídas temporárias, os presos deveriam ser avaliados pelas equipes
técnicas de classificação. Estas equipes são formadas por psicólogos,
assistentes sociais e funcionários dos estabelecimentos e coletam informações sobre
a personalidade do preso, seu comportamento, faltas disciplinares, saúde
mental, entre outras. Não tenho condições de opinar sobre a validade dos
instrumentos utilizados para a classificação, mas a priori confio muito mais
num parecer técnico emitido por estas equipes multidisciplinares, baseado na
análise individualizada de cada preso, do que simplesmente num atestado de bom
comportamento assinado pelo diretor do presídio.
Antigamente, os estados dispunham
inclusive de um Centro de Observação Criminológica (COC), que tinha por
finalidade avaliar o perfil do preso desde o momento inicial de execução da
pena. Mesmo tendo cometido um tipo específico de crime, os graus de
periculosidade são bastante diferentes: uma coisa é um indivíduo que sob influência
de álcool, mata alguém numa briga de trânsito e outra é um matador profissional
ou um psicopata serial. Os COCs hoje, não passam de estabelecimentos penais
comuns, com muito pouca “observação”. Os presos são distribuídos pelo sistema
não em função de sua periculosidade, mas antes em função do pertencimento a
determinada facção criminosa...
Sempre insisti que o poder
público faz pouco uso de dados e algoritmos para a tomada de decisões e muitos
sistemas prisionais mundo afora fazem uso destes dados, testes psicológicos
padronizados, entrevistas qualitativas, etc. para priorizar proteção a vítimas,
conceder benefícios, que chamados atender prioritariamente e outras decisões de
política criminal. Mas é preciso ter em mente que se tratam de critérios
probabilísticos! Ou seja, embora acertem na maioria das vezes, eles podem
falhar em casos específicos. O dilema então é decidir se confiamos mesmo nestes
instrumentos e avaliações ou se partimos do suposto que, por serem
probabilísticos, todos os presos que tem direito formal ao benefício, devem
usufruir deste direito. É sempre uma decisão difícil, pois se corre o risco do
cometimento de injustiças. Estas injustiças talvez sejam um custo a pagar em
nome de um benefício geral. Trata-se de um problema ético e nestes casos a
ciência tem pouco a oferecer e cada sociedade e época tem que optar pelo que
considera o mal menor.
O fato é que, em função do
crescimento desenfreado da população prisional nas últimas décadas e da
precariedade material das equipes de classificação (o estado brasileiro sempre
prefere investir mais em repressão do que em prevenção e pesquisa) , os
pareceres das esquipes técnicas de classificação passaram a ser praticamente
desconsiderados para as progressões e concessões de benefícios. E passou a
prevalecer a ótica de que bastava o atendimento aos requisitos formais da lei. É
preciso uma investigação mais acurada, mas as taxas de não retorno (8%) não
parecem ter aumentado consideravelmente no sistema prisional, apesar desta
mudança de postura nos anos 90, o que é um indício talvez de que os laudos
técnicos não tenham a validade que se espera.
A proposta de monitorar os
indultados através das tornozeleiras eletrônicas não é ruim, mas esbarramos ai
mais uma vez na escassez material, pois a quantidade de beneficiados é muito
grande em alguns estados. Novamente aqui, talvez seja possível estabelecer
algum critério de priorização, colocando as tornozeleiras naqueles indivíduos
de maior “risco”. Hoje em dia, como os crimes são georeferenciados e é possível
até cruzar a trajetória das tornozeleiras com os pontos criminais e verificar
se algum dos indultados estava no horário e local em que um crime foi
registrado.
O problema deste projeto de lei,
como sempre, é o contexto em que está sendo discutido e as motivações
subjacentes, mas afeitas ao populismo penal e com base em poucas evidências
criminológicas. A situação ideal, penso eu, seria a previsão de uma fase de
transição. É preciso primeiro reconstruir as equipes técnicas de classificação
e os centros de observação criminológica, contratar os especialistas,
modernizar e avaliar os instrumentos utilizados, testar a validade dos laudos. Avaliar,
por exemplo, se as taxas de não retorno são menores quando existe o laudo
criminológico, em comparação com as concessões baseadas apenas nos requisitos
formais. Somente depois desta recomposição e avaliações seria recomendável
abandonar o regime atual, de concessão quase automatizada.
Mas como usualmente fazem, nossos
legisladores querem mudar a realidade na base da penada e dos princípios
abstratos do direito. Vamos adjetivar um crime como “hediondo” e num passe de
mágica o problema está resolvido! Pesquisas e avaliações empíricas são
demoradas e custosas e não fazem parte da nossa cultura criminológica. Os
custos da inação, contudo, são quase sempre muito maiores. Se recuperar e
reintegrar o preso é caro, imaginem o custo de não fazê-lo.
No caso brasileiro, não é preciso
imaginar. O caos no sistema prisional e os elevados índices de criminalidade no
país são o resultado, em parte, do abandono da ciência e da pesquisa
criminológica.
quarta-feira, 3 de agosto de 2022
Entrevista a CBN sobre a lista tríplice para escolha de comandante geral da PM
Entrevista de hoje na CBN sobre proposta de lista triplice para escolha de comando da PM https://t.co/4zEGs3QLSI
— tulio (@tuka65) August 3, 2022
terça-feira, 26 de julho de 2022
“Non ducor, duco”
Em 9 de julho comemoramos mais uma vez o aniversário da Revolução Constitucionalista de 1932. O início do movimento deveria coincidir com a data da independência Americana, 4 de julho, mas como sempre no Brasil, houve um pequeno atraso na organização.
O MIS organizou uma exposição
sobre o tema e desenterrou um documentário que ajudei a produzir nos anos 90,
como responsável pela pesquisa histórica e argumento – uma série de
documentários sobre a história do Brasil começando pela Revolução de 30 e que
infelizmente foi interrompida na “Intentona Comunista” de 1935, uma vez que
documentários históricos não são exatamente o gênero preferido da população. https://www.youtube.com/watch?v=U2aFvcDVc1k&t=56s
Em linhas muitos gerais o
episódio resumido é o seguinte. Em 30 Getúlio Vargas toma o poder, prometendo a
realização de novas eleições presidenciais e a convocação de uma Assembleia
Nacional Constituinte em seguida. A eleição prometida, contudo, não vem, o que
gera descontentamento na elite política, principalmente em São Paulo, que
alternadamente com Minas Gerais, ocupava a presidência na República Velha.
Todo fenômeno histórico é
multifacetado e passível de diversas leituras. Além da insatisfação com a
postergação das eleições e o alijamento dos paulista do governo federal, podemos
agregar a insatisfação com o interventor “forasteiro” escolhido pelo governo
central para o Estado, o bombardeamento de São Paulo por tropas federais em
1924, alguma dose de regionalismo (a
velha tese de que SP é a locomotiva que arrasta 26 vagões como peso morto),
reflexos da crise econômica de 1929 e demandas de parte da elite liberal por
uma nova Constituição – o que explica porque em São Paulo o episódio ficou
conhecido como a Revolução Constitucionalista enquanto o governo federal vendia
a ideia de que se tratava de uma movimento separatista.
Não é o caso de aprofundar as
causas e consequências da Revolução, que como é sabido foi derrotada
militarmente, mas que forçou a promulgação da nova constituição em 1934.
Gostaria de ressaltar alguns aspectos sociológicos do evento para efeitos de
comparação com a conjuntura atual. Em 32, elite e povo se uniram num grande
movimento que mobilizou toda a sociedade paulista, algo que talvez só tenha
ocorrido novamente no movimento pelas Diretas Já, mas em escala regional:
imprensa, fazendeiros, industriais, estudantes, trabalhadores, donas de casa –
participaram dos esforços de guerra no front e na retaguarda, neste confronto
que matou mais de 2200 brasileiros, quase cinco vezes o número de soldados
brasileiros mortos na Segunda Guerra (a estimativa oficial é de 937 mortos em
32). Durante os 3 meses de combate, os estudantes da faculdade de direito aglutinaram-se
em batalhões, as famílias doavam ouro para o bem de São Paulo, as moças
alistavam-se como enfermeiras, trilhos de bonde foram arrancados das ruas para
a produção de armas, poetas compunham odes ao movimento, que se valeu também
das modernas técnicas de comunicação para a mobilização popular, como o rádio e
posteres publicitários.
Razões históricas e conjunturais
explicam em parte porquê a demanda por eleições democráticas e uma nova
constituição encontraram eco principalmente em São Paulo. Mas existem razões
“estruturais” que explicam o motivo de quase todos os movimentos democráticos e
antiautoritários nascerem ou contarem com a adesão generalizada no Estado. O
argumento aqui foi bastante e melhor desenvolvido no estudo sobre “Capitalismo
e Liberdade” de Friedman: a defesa da liberdade política e da liberdade
econômica estão entrelaçadas e ambas as bandeiras tem melhores condições de se
desenvolver em sociedades de mercado relativamente complexas. Recorrendo a
Gramsci por equidade, os intelectuais orgânicos da burguesia – jornalistas,
advogados, poetas – fornecem apenas o discurso ideológico que tem um substrato
econômico e social mais profundo.
É nas sociedades de mercado
complexos que surge uma burguesia relativamente independente do Estado, com
autonomia para lutar por seus próprios interesses. Um movimento sindical e
estudantil ativos, uma imprensa autônoma que não depende umbilicalmente dos
recursos públicos. É onde existe um mercado de trabalho na agricultura,
indústria e comércio muitas vezes superior em tamanho ao mercado dos empregos
públicos. É ali que passa a existir uma relativa independência do orçamento
público, dos impostos, das sinecuras, do protecionismo, das amizades com o
governo de plantão. A vida econômica não começa e termina com o Estado, mas se
desenvolve de maneira relativamente autônoma. As ideias circulam nas
universidades, jornais, livros pois há uma classe média desenvolvida, que já
forma um “povo” e não apenas uma “multidão”.
Não é só o tamanho da população
mas principalmente as características da economia e da sociedade paulistas que explicam porque os ideais
democráticos de 32 encontram campo fértil para crescer em São Paulo. E a razão
pela qual os intelectuais, as entidades e instituições paulistas são sempre as
primeiras a aderir às causas democráticas e libertárias: é que sem liberdade
política não existe liberdade econômica. Sem direito ao voto, a propriedade
privada é ameaçada. Sem eleições, o mercado não funciona de modo eficiente. Sem
capitalismo não há liberdade, mas sem liberdade tampouco há capitalismo.
É de São Paulo, principalmente,
que vem agora novamente o alerta do “perigo contra a normalidade democrática”,
como expresso no recente manifesto supra partidário pró-democracia gestado na
Faculdade de Direito da USP, repetindo a Carta aos Brasileiros de 1977. Não
somos mais idealistas do que os demais brasileiros nem defensores mais
ardorosos da democracia. Temos apenas uma economia de mercado mais complexa e uma
sociedade mais independente do governo central– o que nos dá, como em 32, o
dever moral de servir como um anteparo aos eventuais abusos do Estado.
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