segunda-feira, 2 de abril de 2012

Após 34 meses de queda, tendência criminal se inverte no RJ

Depois de um pico criminal em março de 2009, provocado pela crise econômica mundial e que afetou quase todos os estados brasileiros, o Rio de Janeiro manteve uma sequencia ininterrupta de bons resultados nos seus índices criminais durante 34 meses. O ápice desta melhora dos indicadores ocorreu por volta de fevereiro de 2011. Desde então, as quedas criminais no Rio de Janeiro passaram por um processo de desaceleração lenta e contínua, sugerindo que uma inversão estava em curso. (a minha interpretação em post anterior de que o RJ tinha estancado a inversão estava equivocada e foi influenciada pelos bons resultados de janeiro de 2012)
Como nenhum ciclo de queda (ou de alta) pode se manter continuamente, os dados de fevereiro de 2012 mostram finalmente um aumento da criminalidade naquele estado, quando comparados a fevereiro de 2011, ponto mais baixo da queda dos últimos anos.
Assim, com relação a fevereiro do ano anterior, os dados do último mês trazem um crescimento de 0,65% nos roubos, 30,7% nos roubos de veículos, 10,1% nos furtos de veículos, 16,6% nos furtos e 3,2% nos homicídios. O resultado global mensurado pelo ICRJ, em resumo, mostra um primeiro aumento geral na criminalidade nos últimos 34 meses.



Mas é preciso lembrar que estamos comparando justamente com o ponto mais baixo da criminalidade dos últimos anos, fevereiro de 2011, o que “infla” de modo um tanto artificial os aumentos de fevereiro de 2012. Mesmo assim, é inegável a deterioração da situação criminal no Rio de Janeiro, que mostra enfraquecimento progressivo na sua performance nos últimos 12 meses.
Este resultado contrasta com a situação de outros estados que, ao contrário, revelaram desaceleração da criminalidade nos últimos 4 meses.
Como os resultados cariocas foram relativamente bons em 2011, na comparação, nos próximos meses, é provável que continuemos a ver estes crescimentos nas variações, comparadas com os mesmos períodos do ano anterior.
Estes crescimentos precisam contudo ser relativizados, pois no âmbito geral o Rio vem mostrando uma política consistente na condução da segurança e a conjuntura econômica um pouco mais favorável, que já ajuda na queda criminal dos outros estados, deve favorecer igualmente o Rio de Janeiro no futuro próximo. Mas fica o alerta de que as inovações da segurança precisam ser alargadas e aprofundadas e que as UPPs não são suficientes para deter a força dos ciclos criminais, que se prendem a fatores mais poderosos e complexos da estrutura sócio-econômica e demográfica carioca e dos ciclos econômicos do Brasil.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Novos dados criminais de SP, RS e, depois de meses, MG

Os dados criminais mais recentes, divulgados por alguns estados, sugerem que a criminalidade no país está aumentando, mas a taxas menores, desde o terceiro trimestre de 2011. As evidências são fragmentadas, mas vistas em seu conjunto sustentam a interpretação.
Para a Bahia temos informações apenas de Salvador, cujo Índice geral de criminalidade atingiu um pico em setembro de 2011 (38,7 pontos), mas em dezembro, antes da greve, já baixara para 7,6. Infelizmente não foram publicados dados mais recentes para averiguarmos a continuidade da queda, que provavelmente mostrarão um “soluço” no mês de janeiro.
No Rio Grande do Sul, o pior momento ocorreu por volta de julho de 2011, quando o ICRS bateu 49 pontos. De lá para cá veio desacelerando e em fevereiro último apresentou um índice de 13. Ainda em crescimento, portanto, mas desacelerando.
O Rio de Janeiro vem em processo de queda há 34 meses consecutivos mas teve em agosto de 2011 seu “pior” momento, quando o ICRJ marcou -15. De setembro em diante a queda voltou a se intensificar, de tal modo que em janeiro de 2012 o ICRJ caiu para - 31.
Finalmente, o ICSP, calculado para São Paulo, depois de atingir 53 pontos em setembro de 2011, cai agora para 16 pontos.
Em resumo, temos ainda aumento da criminalidade em Salvador, RS e SP, mas desacelerando, se é que serve de consolo... No RJ, aceleração da tendência de queda.
Uma nota final sobre transparência dos dados: os sites das SSPs da Bahia, Paraná e Pernambuco ainda não permitem a verificação dos números de 2012, apesar de estarmos quase em abril. Em compensação, a Secretaria de Defesa Social de Minas publicou dados relativos a janeiro de 2012, embora não tenha divulgado nenhum relativo a 2011. Já é um recomeço!

quarta-feira, 14 de março de 2012

监测犯罪形势: 发展中国家的视角 E ainda reclamam dos meus posts em inglês...

Segue excelente artigo que publiquei com colegas da UN, explicando tudo o que você quer saber sobre criminalidade. Infelizmente, só há versões em chines !

Título
Autores
Elias Carranza, Mariano Ciafardini, Peter Gastrow, Jianan Guo, Tulio Kahn, Celia Leones, Masamba Sita
Nome da publicação
犯罪与社会问题
Páginas
111
Descrição
摘要对发展中国家来说, 系统地收集犯罪和司法数据可以说是一项严峻的挑战.
许多发展中国家在收集, 分析, 公布和利用犯罪数据方面缺乏正规的国家机制.
当需要就资金问题做出选择时, 可能会发现在将宝贵资源分配给数据收集还是派出警务人员到街
上巡逻之间存在两难选择. 鉴于发展中国家对联合国犯罪趋势和刑事司法系统运作情况调查等
国际数据收集举措的答复率通常比较低, 本文借鉴业内人士的经验, 提出了关于发展中国家建立
有效犯罪数据收集系统的一些方法建议, 并强调了能力建设, 计算机化和相关国际行动者的 ...

Impacto do Bolsa Família sobre a criminalidade

Caros leitores (as), segue abaixo o link para um interessante artigo de três economistas publicado em fevereiro último, mostrando efeitos adicionais e positivos do programa Bolsa Família sobre a criminalidade. Para quem quiser aprofundar o tema, há um capítulo da tese de Gabriel Hartung, de cuja banca participei na FGV-RJ em 2010, mostrando mais efeitos indiretos do bolsa família, ao aumentar a renda e a estabilidade dos casais beneficiários do programa de transferência de renda.

Detalhe: tanto o artigo abaixo quanto a tese de Hartung foram produzidos com dados do Infocrim que disponibilizei aos pesquisadores no meu período na SSP...

http://reap.org.br/wp-content/uploads/2012/02/024-Spillovers-from-Conditional-Crash-Transfer.pdf

Segue também um resumo do artigo:

Spillovers from Conditional Cash Transfer Programs: Bolsa Família and Crime in Urban Brazil
Laura Chioda, João M. P. De Mello, Rodrigo R. Soares
February 2012
Abstract
This paper investigates the impact of Conditional Cash Transfer (CCT) programs on crime. Making use of a unique dataset combining detailed school characteristics with time and geo-referenced crime information from the city of São Paulo, Brazil, we estimate the contemporaneous effect of the Bolsa Família program on crime. We address the endogeneity of CCT coverage by exploiting the 2008 expansion of the program to adolescents aged 16 and 17. We construct an instrument that combines the timing of expansion and the initial demographic composition of schools to identify plausibly exogenous variations in the number of children covered by Bolsa Família. We find a robust and significant negative impact of Bolsa Família coverage on crime. The evidence suggests that the main effect works through increased household income or changed peer group, rather than from incapacitation from time spent in school.

sábado, 3 de março de 2012

ESRC Pathfinder Network on the Brazilian Economy

Caros leitores (as), segue abaixo o link para os resultados do projeto que fiz em 2011, com os economitsas Nauro Campos, Cecília Lustosa e Carlos Eduardo Yung. Minha parte foi sobre criminalidade no Brasil e ciclos econômicos, desarmamento, homicídios, etc. Infelizmente não há versão em portugues:

http://www.naurocampos.net/pnbr/pnbr.html

The project was funded by the Economic and Social Research Council (ESRC) between March 2010 and March 2012.

Since the mid 1990's, Brazil embarked on a deep process of economic restructuring. The economy gradually opened up to international trade and investment, while unique social programs were put in place with significant implications for regional and income inequality. This has been accompanied by a substantial acceleration in the growth rates of per capita GDP. Although these rates are still low compared to those of China and India and, to a lesser extent, Russia, growth in Brazil differs from that in the other “Rising Powers” in important areas affecting the sustainability of the growth process itself.

This research project focuses on three of these aspects: innovation, inequality and crime. The PBR network was funded to conduct research examining the relationship between economic restructuring, on the one hand, and the accelerating environmental degradation, urban crime and regional inequality in this period in Brazil, on the other. Each of these areas represents one important barrier to the sustainability of the process of economic restructuring.

Crime, inequality, and environmental degradation all entail social costs and the project documents, and analyse how the potential importance of each has changed (albeit in rather different ways) in Brazil since the mid-1990s and discuss the wide implications for policy, as well as for future academic research.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Criminalidade no Brasil desacelera no último trimestre de 2011


A criminalidade se movimenta em ciclos, como já repetimos e mostramos diversas vezes neste blog. Para identificar estes ciclos e suas fases elaboramos um indicador que é composto pelas variações médias dos principais crimes dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e da Cidade de Salvador.

Séries históricas longas e publicação mensal de estatísticas criminais foram os motivos da escolha destes locais para a composição do Índice Geral. A nos fiarmos neste indicador, os ciclos no Brasil seriam os seguintes, a partir de 2002:





1 ciclo - baixa - de janeiro a agosto de 2002 - duração 8 meses
2 ciclo - alta - de setembro de 2002 a setembro de 2003 - duração 13 meses
3 ciclo - baixa - de outubro de 2003 a maio de 2004 - duração 8 meses
4 ciclo - alta - de junho de 2004 a março de 2005 - duração 10 meses
5 ciclo - baixa - de abril de 2005 a janeiro de 2006 - duração 10 meses
6 ciclo - alta - de fevereiro a dezembro  de 2006 - duração 11 meses
7 ciclo - baixa - de janeiro de 2007 a maio de 2008 - duração 17 meses
8 ciclo - alta - de junho de 2008 a maio de 2009 - duração 12 meses
9 ciclo - baixa - de junho de 2009 a abril de 2010 - duração 11 meses
10 ciclo - alta - de maio de 2010 a setembro de 2011 - duração 17 meses

Tendo atingindo um pico por volta de setembro, a criminalidade desacelerou por 3 meses consecutivos no último trimestre, sugerindo que estamos entrando em um novo ciclo de baixa da criminalidade, o 11º desde 2002.

Analisando por área, em São Paulo o ICSP passou de 53 pontos em setembro para 31 em dezembro, no Rio de Janeiro, que vinha diminuindo a intensidade da queda criminal, voltou a intensificá-la entre outubro e dezembro, no Rio Grande do Sul o ICRS passou de 9 pontos em setembro para - 16 em dezembro. E mesmo Salvador, não obstante a greve de janeiro, melhorou seu desemprenho no último trimestre de 2011. Minas Gerais, infelizmente, ainda não publicou nenhum dado do ano anterior... Mesmo o roubo de veículos, que cresceu acentuadamente em todas as áreas desde agosto de 2010, como alertamos em posts anteriores, começa a arrefecer a partir de setembro de 2011. (se minha teoria de que os criminosos são os primeiros a sentir os efeitos econômicos estiver correta, as taxas de inadimplência na economia devem desacelerar nos próximos meses...)







Tomando estes 117 meses como base, sabemos que os ciclos duram em média 11,7 meses, com amplitude variando de 8 a 17. Embora  os ciclos de alto e baixa tenham aproximadamente a mesma duração, nos últimos anos as fases de baixa tem sido mais intensas do que as de alta, o que explica a queda da criminalidade nestes locais nos últimos anos.

Ainda é prematuro declarar que já estamos em queda de maneira inequívoca, mas existem indícios que corroboram esta impressão: primeiro, o ciclo de alta já durou muito mais do que o esperado, 17 meses consecutivos - e uma hora inevitavelmente ocorre uma inversão. Além disso, as quedas ocorrem mais ou menos simultaneamente em todos os Estados analisados e já estamos no terceiro mês consecutivo de queda. Finalmente, a economia deu sinais de recuperação tênue no último trimestre, o que sempre gera impactos positivos sobre a criminalidade.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Prepare o bolso para o aumento do seguro do seu carro em 2012

Analisando as estatísticas criminais de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Bahia, que publicam seus dados mensalmente (como sempre defendi...) mostramos que o pais passa por um ciclo de alta da criminalidade desde o segundo semestre de 2010. Minas Gerais, infelizmente, não publicou ainda nenhum dado de 2011 mas ali também é perceptível uma piora nos crimes patrimoniais desde maio de 2010.
E o carro chefe desta elevação criminal é o roubo de veículos, indicador cuja confiabilidade é elevada em virtude da baixa subnotificação. Vejamos a evolução deste indicador de setembro de 2010 a setembro de 2011: no Rio de Janeiro 9,5% de crescimento nestes 12 meses, no Rio Grande do Sul  16,7%, em São Paulo 28% e na Bahia (dados apenas da Capital) 59,3%. Na média, um crescimento de 24,6% nos roubos de veículos do ano passado para cá.


Como já discutimos anteriormente, a desaceleração econômica explica em parte esta tendência, que é geral, e a gestão explica outra: o impacto da piora econômica em todos os indicadores tem sido menor no Rio de Janeiro, onde o governo inova na segurança. Por isso a variação do roubo de veículos no RJ é menor e se deu mais tardiamente do que em outros lugares.




Uma consequência indireta é o aumento dos latrocínios, uma vez que a maior parte dos latrocínios ocorre durante tentativas de roubo a veículos. Outras consequências são o aumento da sensação de insegurança, mais gente circulando armada para defesa pessoal e portanto, a média prazo, impacto sobre os homicídios. Por fim, mesmo para quem não teve o veículo roubado, aumento nos seguros para todos, em função do aumento da sinistralidade. (curiosamente, o valor do seguro raramente cai quando há queda na sinistralidade...)
Finalizo agradecendo aos quase 10 mil leitores do blog, desejando um feliz Natal / Chanuká  a todos e que seu carro não seja roubado em 2012 !

keepinhouse

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