Não existe consenso sobre o impacto
que a presença dos candidatos nas redes sociais tem sobre as eleições. Trata-se
de um fenômeno relativamente recente e pouco estudado. No Brasil, o uso das
redes sociais de forma massiva durante as eleições ocorreu mais intensamente a
partir das eleições de 2018, quando Bolsonaro, disputando por um pequeno
partido e com poucos recursos, venceu as eleições presidenciais. Argumenta-se
que a campanha pelas redes teve papel relevante nas campanhas de Obama e Trump,
mas é difícil isolar especificamente o papel das redes nestes resultados.
Nas últimas eleições
presidenciais, analistas atribuíram parte do bom desempenho de Bolsonaro ao
engajamento do candidato nas redes sociais, quando inclusive foi acusado de
práticas ilegais como disparo em massa de mensagens pelo WhatsApp e disseminação
de fake news, práticas objeto de investigações pela justiça. As práticas abusivas
durante as campanhas passaram a ser mais bem controladas pelo TSE e pelas próprias
empresas nas eleições subsequentes, embora ainda seja grande a quantidade de
informações enganosas que circulam pelas redes.
O Estadão lançou recentemente uma
ferramenta onde é possível acompanhar o tamanho, crescimento e engajamento dos
candidatos presidenciais nas principais redes – com exceção do Tik Tok, última
moda entre os jovens. Por outro lado, os agregadores de pesquisas eleitorais
nos dão uma boa noção do potencial de voto em cada candidato. A questão interessante
que se coloca é saber se e em que medida a presença nas redes tem de fato se
traduzido em intenção de votos para os candidatos.
A tabela abaixo traz o número de
seguidores dos quatro principais candidatos à presidência. Em conjunto, os
candidatos mobilizam quase 63 milhões de pessoas, o que equivale a
aproximadamente 40% do eleitorado brasileiro, estimado em 156 milhões. (o
cálculo não é exato, pois há seguidores nas redes que não são eleitores).
Bolsonaro tem 47 milhões de seguidores, o equivalente a 30% do eleitorado.
Lula, em comparação, tem “apenas” 10 milhões de seguidores, o equivalente a
cerca de 7% dos eleitores. Ciro tem pouco mais de 4 milhões e Simone Tebet não
chega aos 700 mil seguidores.
Candidato |
Facebook |
Twiter |
Instagram |
Youtube |
total |
% eleitores |
Bolsonaro |
14604896 |
8553027 |
20397946 |
3740000 |
47295869 |
30.2% |
Lula |
499461 |
3973664 |
5622670 |
513000 |
10608795 |
6.8% |
Ciro |
974162 |
1434985 |
1281373 |
480000 |
4170520 |
2.7% |
Tebet |
160582 |
334024 |
179973 |
8960 |
683539 |
0.4% |
|
16239101 |
14295700 |
27481962 |
4741960 |
62758723 |
40.1% |
Número de seguidores não é a
única métrica relevante, pois há que se levar em conta a intensidade do
engajamento e o uso de outros sistemas como o WhatsApp ou Telegram, que são
ferramentas de comunicação mas também bastante utilizadas no Brasil para a
transmissão de informações sobre política. De todo modo, podemos supor que o
número de seguidores reflita de algum modo a presença dos candidatos nas redes.
Bolsonaro tem a maior parte dos
seguidores no Instagram (43%) e no FaceBook (30,9%) enquanto Lula concentra seus
seguidores no Instagram (53%) e Twitter (37,5%), assim como Ciro Gomes (34,4%).
É digno de nota que apenas 4,7% dos seguidores do petista venham do Facebook. Tebet
tem praticamente metade dos seus seguidores no Twitter(48,9%), que de todas é a
mais politizada e que mais “viraliza” conteúdos. Embora todos tenham presença,
o Youtube é a plataforma menos utilizada pelos candidatos para angariar
seguidores.
Quem acompanha as pesquisas de
intenção de voto percebe a primeira vista que número de seguidores não se
traduz necessariamente em capital eleitoral. Tomando os dados do agregador de
votos do Estadão desta primeira quinzena de agosto, vemos Lula com 45% das
intenções de voto, seguido por Bolsonaro com 32%, Ciro Gomes com 7% e
finalmente, Tebet com 2% das menções.
No caso de Bolsonaro há algum equilíbrio
relativo entre presença na rede e intenção de voto: o presidente se comunica
com 30% do eleitorado nas redes sociais e obtém 32% das intenções de voto. Ciro
e Tebet, por outro lado, tem claramente mais eleitores do que seguidores nas
redes. A maior distorção, todavia,
aparece no caso de Lula, que tem aproximadamente 6,6 vezes mais eleitores do
que seguidores nas redes. Visto de outro modo, Lula se comunica nas redes com
apenas 15% do seu eleitorado, estimado em 70 milhões de pessoas.
O capital político do ex-presidente,
um político tradicional e analógico, digamos assim, está em grande parte fora
das redes sociais, ainda na memória dos eleitores – a grande maioria dos quais
não se interessa em acompanhar ou interagir com seu candidato. O perfil de
renda, escolaridade, regional e demográfico dos eleitores de cada candidato
também impacta na maior ou menor presença nas redes e explica parte destas diferenças
de estilo das candidaturas: mulheres nordestinas de baixa renda e escolaridade
tendem a votar em Lula, mas é improvável que acompanhem o candidato nas redes
sociais.
Políticos bem conhecidos e bem
avaliados, portanto, podem ainda “compensar” uma reduzida presença nas redes
com seu “capital político” tradicional: organização partidária, ramificação
municipal, carisma, recursos econômicos, tempo de TV, militância, etc. Existem
assim diversos outros tipos de recursos que podem contrabalançar o uso das redes,
onde em geral os candidatos falam para seus próprios convertidos. E o contexto
macro-político e econômico muda a cada eleição, favorecendo ou desfavorecendo
representantes do governo ou da oposição. Em resumo, existem dezenas de outras
variáveis que explicam e determinam a intenção de voto, para além da presença
nas redes. Seu peso pode ser mais decisivo em eleições proporcionais, onde
muitos candidatos desconhecidos disputam a atenção dos eleitores.
A campanha eleitoral acaba de
começar oficialmente e é preciso aguardar para ver o impacto do uso das redes
pelos candidatos nas intenções de voto. As pesquisas eleitorais mostram que as
preferências dos eleitores já estão bastante consolidadas e a campanha será
curta. Há muito mais controle também sobre o uso das redes nas eleições. Embora
Bolsonaro leve vantagem sobre Lula neste quesito, tudo leva a crer que dificilmente
a presença nas redes terá o potencial, por si só, de alterar o cenário
eleitoral atual.
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