Indicadores educacionais e evolução dos homicídios dolosos entre 2001 e 2018, por UF
classes de variação hd 0118 | Var Homicídio 2001 2018 | Média de escola | Avg. % de crianças de 6 a 14 fora da
escola | Avg. Expectativa de anos de estudo | Avg. Taxa de analfabetismo - 11 a 14
anos |
queda hd | - 27,90 | 9,78 | 12,14 | 8,86 | 4,00 |
sobe pouco | 63,77 | 9,38 | 14,43 | 8,43 | 10,57 |
sobe muito | 229,36 | 8,93 | 18,85 | 7,31 | 17,69 |
Total | 119,73 | 9,27 | 15,96 | 8,00 | 12,30 |
F | 16,98 | 6,20 | 3,65 | 5,18 | 10,36 |
Sig | 0 | 0,007 | 0,041 | 0,014 | 0,001 |
Tabela 1 - Literatura selecionada sobre educação e criminalidade
Efeito | Observações | Dependente | Independente | citação |
Positivos ou negativos, dependendo
do crime | Educação está negativamente
relacionada à incidência de crimes contra a pessoa, mas positivamente
associada a crimes contra a propriedade | Crimes contra a pessoa e contra a
propriedade, agregado por micro regiões | Nível de escolaridade | FAJNZYLBER, P.; ARAÚJO JÚNIOR, A.
Violência e criminalidade. In: LISBOA, M. B. MENEZES FILHO, N. A. (Ed.).
Microeconomia e sociedade no Brasil. Rio de Janeiro: Contracapa Editora,
2001. p. 333-394. [ Links ] |
Positivos ou negativos, dependendo
do crime | Não estar frequentando a escola
aumenta a probabilidade de envolvimento com infrações mais graves. Aumenta
probabilidade de cumprir medida em meio fechado. | Risco individual de envolvimento com
o crime | Atendimento escolar | de
Almeida, E. M., Hojda, A., Sposato, K. B., & Kahn, T. (2002).
Adolescentes suspeitos ou acusados da autoria de atos infracionais em São
Paulo: convênio Ilanud/Febem-SP/PAJ-Infância e Juventude. Revista brasileira
de ciências criminais, (38), 165-209. |
Negativos (mais educação, menos
crimes) | Um ano a mais de estudo pode
provocar uma queda de 6% na taxa de homicídios no curto prazo e de 12% no
longo prazo | Tx de homicídio agregada por UF | Nível de escolaridade | KUME, L. Uma estimativa dos
determinantes da taxa de criminalidade brasileira: uma aplicação em painel
dinâmico. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 32., 2004. João Pessoa . Anais…
João Pessoa: Anpec, 2004. p. 1-16. [ Links ] |
Positivos ou negativos, dependendo
do crime | Indivíduos com baixa escolaridade
apresentam maiores riscos de vitimização em crimes não economicamente
motivados e menores riscos naqueles economicamente motivados | Risco de vitimização individual | Nível de escolaridade | Beato
F, Cláudio, Betânia Totino Peixoto, and Mônica Viegas Andrade. "Crime,
oportunidade e vitimização." Revista brasileira de ciências
sociais 19.55 (2004): 73-89. |
Positivos (mais educação, mais
crimes) | Quanto maior o percentual de
responsáveis no domicílio com 3 anos de estudo, maiores as taxas de crimes
contra o patrimônio no bairro | Tx crimes patrimoniais agregada por
bairro | Nível de escolaridade | Lemos,
Alan Alexander Mendes, Eurílio Pereira Santos Filho, and Marco Antonio Jorge.
"Um modelo para análise socioeconômica da criminalidade no município de
Aracaju." Estudos Econômicos (São Paulo) 35.3 (2005):
569-594. |
Negativos (mais educação, menos
crimes) | Quanto maior a eficiência no ensino
básico, menor a taxa de homicídio no município. | Tx de homicídio por município | Eficiência do ensino básico | OLIVEIRA, C. A. Criminalidade e o
tamanho das cidades brasileiras: Um enfoque da economia do crime. In:
ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 33., 2005. Natal. Anais... Natal: Anpec, 2005.
p.1-23. [ Links ] |
Positivos ou negativos, dependendo
do crime | Quanto maior a escolaridade média da
pop. no município, menor o número de
furtos, mas maiores as taxas de fraude e estelionato | Tx de crimes diversos, agregadas por
município | Nível de escolaridade | Hartung,
Gabriel Chequer. Fatores demográficos como determinantes da
criminalidade. Diss. 2006. |
Positivos ou negativos, dependendo
do crime | Quanto maior a média de anos de
estudo da pop. no Estado, menos homicídios e roubos. Mas mais furtos | Tx de crimes diversos agregados por
UF | Nível de escolaridade | Loureiro,
A. O. F., and J. R. A. Carvalho Jr. "O impacto dos gastos públicos sobre
a criminalidade brasileira." Encontro Nacional De Economia 35
(2007). |
Negativos (mais educação, menos
crimes) | Quanto maior o percentual de
adolescentes de 15 a 17 anos frequentando a escola, menor a taxa de
homicídios | Tx de homicídios agregados por
município | Atendimento escolar | de
Resende, João Paulo. "Crime social, castigo social: o efeito da
desigualdade de renda sobre as taxas de criminalidade nos grandes municípios
brasileiros." (2007). |
Negativos (mais educação, menos
crimes) | Elasticidade negativa entre medida
de escolaridade média e crimes letais | Crimes letais | Nível de escolaridade | SANTOS, M. J. Dinâmica temporal da
criminalidade: mais evidências sobre o efeito inércia nas taxas de crimes
letais nos estados brasileiros. Economia, Brasília, Anpec, v. 10, n. 1, p. 170-194,
2009. [ Links ] |
Negativos (mais educação, menos
crimes) | observaram uma relação (elasticidade)
negativa de 1,7 entre a taxa de matrículas e crimes não pecuniários. | Crimes não pecuniários | Atendimento escolar | Scorzafave,
Luiz Guilherme, and Milena Karla Soares. "Income
inequality and pecuniary crimes." Economics Letters 104.1 (2009): 40-42. |
Negativos (mais educação, menos
crimes) | Quanto maior a taxa de abandono
escolar defasada em um período, maior a taxa de homicídio | Tx de homicídio agregada por UF | Atendimento escolar | Teixeira, Evandro Camargos. Dois
ensaios acerca da relação entre criminalidade e educação. Diss.
Universidade de São Paulo, 2011. |
Negativos (mais educação, menos
crimes) | utilizam como medida de educação o
percentual de adolescentes entre 15 e 17 anos na escola e observa uma relação
negativa com a taxa de homicídios. | Tx de homicídios | Atendimento escolar | RESENDE, J. P.; VIEGAS, M. Crime
social, Castigo social: desigualdade de renda e taxas de criminalidade nos
grandes municípios brasileiros. Estudos Econômicos, São Paulo, v. 41, n. 1,
p. 173-195, jan./mar. 2011. [ Links ] |
Negativos (mais educação, menos
crimes) | Quanto maior a taxa de atendimento
escolar para jovens de 15 a 17 anos, menor a taxa de homicídios | Tx de homicídios | Atendimento escolar | CERQUEIRA,
Daniel, and Rodrigo Leandro de MOURA. "Demografia e homicídios no
Brasil." Novo regime demográfico: uma nova relação entre
população e desenvolvimento 1 (2014): 355-373. |
Negativos (mais educação, menos
crimes) | a universalização do ensino médio
para pessoas com mais de 15 anos de idade teria o efeito de diminuir em 42,3%
o número de homicídios no país. | Risco de vitimização individual
(homicídio) | Atendimento escolar | Cerqueira, Daniel, and Danilo Santa
Cruz Coelho. "Redução da idade de imputabilidade penal, educação e
criminalidade." (2015). |
Negativos (mais educação, menos
crimes) | analisaram o efeito do programa Bolsa
Família sobre o crime e verificaram que a expansão do programa, associada a
frequência escolar de adolescentes em situação de vulnerabilidade
socioeconômica com idade entre 16 e 17 anos, contribuiu para a diminuição dos
homicídios na cidade de São Paulo. | Tx de homicídio | Atendimento escolar | CHIODA, L.; MELLO, J. M. P.; SOARES, R. Spillovers from conditional
cash transfer programs: Bolsa Família and crime in urban Brazil. Economics
of Education Review, v. 54, p. 306-320, 2015. [ Links ] |
Negativos (mais educação, menos
crimes) | a
taxa de homicídios está positivamente relacionada com o nível de desigualdade
de renda e negativamente com o nível de educação, despesa com segurança e
renda. | Tx de homicídios | Nível de escolaridade | de Carvalho, Renata Costa, and
Fernando Henrique Taques. "A desigualdade de renda e a educação podem
explicar a criminalidade? Uma análise para os Estados brasileiros."
Revista de Políticas Públicas 18.2 (2015): 343-357 |
Negativos (mais educação, menos
crimes) | Cerqueira e Moura (2014; 2015) e
Cerqueira e Coelho (2015) encontraram evidências de que a maior taxa de
atendimento escolar para homens jovens entre 15 e 17 anos está associada a
uma diminuição da taxa de homicídio | Tx de homicídio | Atendimento escolar | Cerqueira, Daniel. "Trajetórias
individuais, criminalidade e o papel da educação." (2016). |
Negativos (mais educação, menos
crimes) | Os resultados indicaram uma
elasticidade negativa de aproximadamente 0,1 na primeira defasagem, ou seja,
se os gastos com educação aumentarem 10%, a taxa de homicídios diminuiria 1%
no período seguinte | Tx de homicídio agregada por UF | Gastos com educação | Becker, Kalinca Léia, and Ana Lúcia
Kassouf. "Uma análise do efeito dos gastos públicos em educação sobre a
criminalidade no Brasil." Economia e Sociedade 26.1
(2017): 215-242. |
Negativos (mais educação, menos
crimes) | Para cada
concluinte do ensino médio, a redução estimada na criminalidade gera economia
de 63% da renda per capita ao longo da vida. A sociedade poupa R$ 18 mil em
combate ao crime. | criminalidade | Atendimento escolar | Barros, Ricardo Paes de. “Políticas públicas
para redução do abandono e evasão escolar de jovens. Ipea, 2020 |
A principal conclusão ao analisar esta literatura é que, do ponto de vista da política pública, é compensador investir em educação para reduzir a criminalidade. É mais barato para o poder público e mais rentável para o indivíduo e para as comunidades. Mas não se trata apenas de eficiência e economia. O resultado final são menos vidas perdidas e aumento da qualidade de vida da população.
Além de estímulos para a retomada da economia e dos empregos e do retorno ao controle sobre armas e munições, lideranças políticas responsáveis devem estimular a permanência dos jovens na escola, através, por exemplo, de programas de “busca ativa”, identificando os alunos faltantes e tentando sanar suas dificuldades. É preciso fazer segurança pública baseada em evidências. E a literatura criminológica sugere que garantir emprego e educação para os jovens, além de retirar as armas de circulação, são políticas efetivas para a redução da criminalidade.
Bibliografia selecionada - educação e criminalidade
1. Barros, Ricardo Paes de. “Políticas públicas para redução do abandono e evasão escolar de jovens. Ipea, 2020
2. CERQUEIRA, Daniel, and Rodrigo Leandro de MOURA. "Demografia e homicídios no Brasil." Novo regime demográfico: uma nova relação entre população e desenvolvimento 1 (2014): 355-373.
3. de Almeida, E. M., Hojda, A., Sposato, K. B., & Kahn, T. (2002). Adolescentes suspeitos ou acusados da autoria de atos infracionais em São Paulo: convênio Ilanud/Febem-SP/PAJ-Infância e Juventude. Revista brasileira de ciências criminais, (38), 165-209.
4. de Resende, João Paulo. "Crime social, castigo social: o efeito da desigualdade de renda sobre as taxas de criminalidade nos grandes municípios brasileiros." (2007).
5. Hartung, Gabriel Chequer. Fatores demográficos como determinantes da criminalidade. Diss. 2006.
6. Kahn, Tulio, J. C. Besen, and R. B. Custódio. "Pesquisa de Vitimização 2002 e Avaliação do Plano de Prevenção da Violência Urbana-PIAPS." ILANUD, FIA-USP, Gabinete de Segurança Institucional (2002).
7. Kahn, Tulio. "Pesquisas de vitimização." Revista do Ilanud 10 (1998).
8. KAHN, Túlio. "Sistema penitenciário: mudanças de perfil dos anos 50 aos 90." Revista do ILANUD, São Paulo 6 (1997).
9. Kahn, Tulio. Segurança Pública: diagnósticos e prognósticos - 2019 Formato: eBook Kindle. ASIN: B07YYPHSTZ
10. Lemos, Alan Alexander Mendes, Eurílio Pereira Santos Filho, and Marco Antonio Jorge. "Um modelo para análise socioeconômica da criminalidade no município de Aracaju." Estudos Econômicos (São Paulo) 35.3 (2005): 569-594.
11. Loureiro, A. O. F., and J. R. A. Carvalho Jr. "O impacto dos gastos públicos sobre a criminalidade brasileira." Encontro Nacional De Economia 35 (2007).
12. T. Kahn, C. Bermergui, E. Yamada, F. Cardoso, F. Fernandes, J. Zacchi, et al.O dia-a-dia na vida das escolas (violências auto assumidas) [Day to day life in schools (self-reported violence)] Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente/Instituto Sou da Paz, São Paulo, SP, Brazil (1999).
13.
Teixeira,
Evandro Camargos. Dois ensaios acerca da relação entre criminalidade e
educação. Diss. Universidade de São Paulo, 2011. |
14. Becker, Kalinca Léia, and Ana Lúcia Kassouf.
"Uma análise do efeito dos gastos públicos em educação sobre a
criminalidade no Brasil." Economia e Sociedade 26.1 (2017):
215-242. |
15. Cerqueira, Daniel, and Danilo Santa Cruz Coelho.
"Redução da idade de imputabilidade penal, educação e
criminalidade." (2015). |
16.
Cerqueira,
Daniel. "Trajetórias individuais, criminalidade e o papel da
educação." (2016). 17.
FAJNZYLBER,
P.; ARAÚJO JÚNIOR, A. Violência e criminalidade. In: LISBOA, M. B. MENEZES
FILHO, N. A. (Ed.). Microeconomia e sociedade no Brasil. Rio de Janeiro:
Contracapa Editora, 2001. p. 333-394. [ Links ] 18.
KUME, L.
Uma estimativa dos determinantes da taxa de criminalidade brasileira: uma
aplicação em painel dinâmico. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 32., 2004.
João Pessoa . Anais… João Pessoa: Anpec, 2004. p. 1-16. [ Links ] 19.
OLIVEIRA,
C. A. Criminalidade e o tamanho das cidades brasileiras: Um enfoque da
economia do crime. In: ENCONTRO NACIONAL DE ECONOMIA, 33., 2005. Natal.
Anais... Natal: Anpec, 2005. p.1-23. [ Links ] 20.
SANTOS,
M. J. Dinâmica temporal da criminalidade: mais evidências sobre o efeito
inércia nas taxas de crimes letais nos estados brasileiros. Economia,
Brasília, Anpec, v. 10, n. 1, p. 170-194, 2009. [ Links ] |
21. Beato F, Cláudio, Betânia Totino Peixoto, and Mônica
Viegas Andrade. "Crime, oportunidade e vitimização." Revista
brasileira de ciências sociais 19.55 (2004): 73-89. |
[i] Uma vez que num país como o nosso, onde as desigualdades são cumulativas, educação e renda estão associadas, é fácil perceber pelo grau de instrução da população carcerária, que são as camadas mais pobres[i] e menos escolarizadas que estão condenadas em maior proporção às penas privativas de liberdade: o censo de 1996 indicava a existência de 7% de analfabetos, 15% de apenas alfabetizados e 60% de internos com primário incompleto. A maioria esmagadora, portanto, não possui aquilo que hoje é fundamental para a colocação no mercado de trabalho: educação. Esta predominância dos pouco escolarizados nos presídios é algo que tem se mantido constante no tempo, desde a década de 50. Não é preciso muito esforço para entendê-la: os menos ricos e educados não só tem menos oportunidades relativas de entrar no mercado de trabalho como maiores dificuldades familiares e menores chances de contar com uma boa defesa legal. Somando-se a isso a impunidade com relação aos crimes do colarinho branco, corrupção e outros crimes onde é maior a incidência dos mais educados, é fácil compreender a quase absoluta ausência de indivíduos com nível superior nas prisões do Estado.(Kahn, 1998)
[ii] “Os dados sugerem, como seria natural esperar, que os jovens que não estudam, que constituem metade da amostra, tendem a praticar crimes mais violentos. Entre os que estavam estudando, observou-se uma maior ocorrência de lesão corporal. O ato desacato e a direção sem habilitação também são infrações comuns entre os jovens que estudam. Entre os jovens contraventores que não estão estudando os crimes mais frequentes são os de maior gravidade como o homicídio, roubo simples (56,6 %) e o tráfico de entorpecentes (63,7 %). No caso do homicídio, 70 % das ocorrências são cometidas por jovens que não freqüentam a escola. Nos crimes leves, como lesão corporal, desacato, dano ou direção sem habilitação, a relação se inverte: 74,1% dos infratores acusados de lesão estão entre os que freqüentam a escola, assim como 63,2% dos acusados por dano e 68,7% dos acusados por dirigir sem habilitação. Não só os que estudam cometem infrações mais leves como, quanto mais avançados os estudos mais leves parecem ser as infrações: direção sem habilitação, dano e porte de entorpecentes concentram se entre aqueles que tem 2º e 3º colegial. De um modo geral, os dados revelam os efeitos positivos da educação como freio a criminalidade, pois quanto mais os jovens avançam na trajetória escolar, menor a probabilidade de envolvimento com crimes violentos.(Kahn, 2002)
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